quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nada muito sobre filmes (Parte XXIX)

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Por Germano Xavier,
com extrema preguiça de escrever


Versos de um crime

1944. Allen Ginsberg e Lucien Carr. Poesia, literatura, contracultura e atração. Vai lá, dê uma espiadinha!


A casa dos pequenos cubinhos

Delicado. Quase sublime.


Bonnie & Clyde

Gosto da história dos dois, mas da versão cinematográfica de 2013, não.


Guardiões da Galáxia

Sei lá.


O último capítulo

Frustrante.


Black Mirror

A primeira temporada tem um conteúdo bem legal.


Demônio

Nem lembro mais de tanto que é desprezível. O terror/horror precisa se reinventar. Tá difícil!


A viagem de Chihiro

É deveras interessantíssimo. Todavia, é preciso entender bem o que há por detrás de tanta simbologia. O mundo oriental é fascinante. Para ver e rever, várias vezes.


La La Land – Cantando Estações

Valeu a meia-entrada que paguei.


* Imagem: http://www.blog.365filmes.com.br/2015/04/Estudante-reune-120-anos-de-Cinema-em-video-de-7-minutos.html

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Confesso que li

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Por Germano Xavier


A aventura da leitura começou cedo em minha vida. Muito, mas muito cedo, também não. Melhor seria se eu começasse este texto da seguinte forma: a aventura da leitura começou na hora certa em minha vida. Desta forma, até que soa mais verdadeiro. Mas há uma “hora certa” para se começar a ler? Sete ou oito anos de idade, com alguma margem de erro ou de acerto para mais ou para menos. É quando começo a recordar de alguns momentos... Guardo memórias ainda infantes de quando chegavam até mim alguns exemplares de gibis e alguns velhos e surrados almanaques. Foi assim por boa parte da minha infância no interior baiano. E, como sempre, tomado por um bom espanto, eu me agarrava àqueles materiais impressos e lia, lia e lia.

Com o tempo, revistas sobre automóveis e motocicletas foram me chamando a atenção. Meu pai, vendo meu gosto crescer com o passar dos dias, logo se prontificou a fazer uma assinatura da revista Quatro Rodas, da Editora Abril. Tamanha era a fome demonstrada pelo conteúdo, que eu me prontifiquei a guardar todas as edições estrategicamente organizadas por anos e edições, além, é claro, de dificultar ao máximo as cada vez mais frequentes “mãos bobas” do meu irmão, que também começava a se interessar pelo assunto. Emprestar, para quem é aficionado e mesmo para um irmão, era sempre um suplício. Minha coleção de revistas sobre os mais diversos assuntos rapidamente entupiu uma estante e outra e depois mais outra, e assim sucessivamente. Perdi a conta de quantas tive, de quantas li. Até hoje, guardo comigo “notório saber” sobre automóveis e motocicletas em geral. Curioso, não?

No começo, literatura era mais difícil de se encontrar. Chegavam-me livros em porções parcas. Lia tudo. Quase tudo. Sem distinção. De Paulo Coelho a Dalton Trevisan e Borges. De Hilda Hilst a George Orwell, passando por Drummond e Melville. No início, bem lá no início, acreditei na ideia de que existia uma “Grande Literatura”, e mais ainda, que era bonito e elegante ler e expor conhecimentos sobre os “cânones” da literatura universal. Hoje sei o quão bobo era, o quão ingênuo fui. Os livros que outrora apontava como sendo magnânimos e quase solenes, hoje são apenas bons livros em sua maioria. Entendi, a bom custo, que não há melhor literatura que outra, que não há literatura ruim nem literatura boa. Entendi, senão, que existem literaturas e, principalmente, que existem circunstâncias de leitura literária.

A escola não me ajudou muito no processo de gostar de ler. Todavia, alguns momentos foram cruciais para que a chama da leitura fosse acesa dentro de mim. Um deles foi quando a professora de português cobrou a leitura de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, e de Meu Pé de Laranja Lima, do José Mauro de Vasconcelos. Como aluno, não entendia bem o porquê de se cobrar a leitura de um livro para dar conta, depois, de algumas tarefas quase sempre banais. Hoje, do outro lado, como professor, entendo a importância de se levar livros ao encontro dos estudantes. E livros de todas as espécies, é bom frisar.

A escola, com todas as suas falhas e perrengues já ancestrais, ainda é um espaço em que se pode ensinar a gostar de ler, e de ler literatura! A maioria do alunado aprenderá a falar, mesmo que raramente, de alguns exemplares ou de algumas leituras. Outros alunos, mesmo que sendo poucos no meio de um enorme contingente, farão a mesma viagem que fiz. Uma viagem sem volta, diga-se de passagem, porque quem aprende a gostar de ler textos de cunho literário alcança o infernal paraíso insuspeito das coisas e do homem, e é muito raro alguém deixar este espaço para trás sem mais nem menos. São esses meus alunos os tesouros de minha profissão.

Jamais reprimi um aluno meu pelo fato de ele estar lendo um best-seller atual, dos que figuram nas mais reles listas dos mais vendidos, quase sempre sobre romances vampirescos ou distopias de cunho adolescente. Ao contrário, incentivo. Nem tudo o que parece ser, é. Nem tudo que é, é. O que é mesmo que garante a um texto ser taxado de literatura? Quais são os fatores de literariedade que ajudam a potencializar um texto? O que é mesmo essa tal de literatura de qualidade? Alguém aí tem a resposta? Eu prefiro acreditar, hoje, que a qualidade de um texto literário começa pelo olhar de cada ser-leitor e que um uso “afetadamente artístico” da linguagem não garante que o texto seja considerado literário. 

Por ser, ela, a literatura, um fenômeno cultural e histórico ao mesmo tempo, diferentes grupos sociais em diferentes épocas podem classificá-la de diferentes maneiras. Sendo assim, faz-se necessário crer na ideia de que a literatura não é um seixo inamovível. A literatura está mais para fluido, e mesmo as mais rígidas “instâncias de legitimação” atreladas à Grande Literatura não podem agregar valores incorrigíveis ao que denominamos de texto literário. Até mesmo as nossas expectativas podem mudar o conceito do que seja a literatura. Ou não?

Outro grande desafio que sempre tive e tenho em sala de aula é o de introjetar mais o “popular” no espaço do saber literário, de discuti-lo mais amplamente com meus alunos, especialmente em esferas de maior carência de recursos educacionais ou, também, em seus opostos. É preciso “impor” variedade. O professor está lá para isso, para ofertar. Como diz Márcia Abreu (2006, p.80), em seu livro intitulado de Cultura letrada: literatura e leitura, “a apreciação estética não é universal: ela depende da inserção cultural dos sujeitos. Uma mesma obra é lida, avaliada e investida de significações variadas por diferentes grupos culturais”. 

Assaz assim, como diz a autora supracitada, será inteligente de nossa parte entendermos que “não há obras boas e ruins em definitivo. O que há são escolhas – e o poder daqueles que as fazem. Literatura não é apenas uma questão de gosto: é uma questão de política” (2006, p.112). As razões para o surgimento de um leitor contumaz de literatura são as mais díspares, sabemos. Todavia, se observarmos tais indícios, a tendência é que outros muitos obstinados aventureiros da leitura sigam aparecendo mundo afora, talvez até com mais facilidade, sabedores de suas escolhas e capazes de discernir o que é melhor para si mesmos enquanto leitores. As literaturas, pois, agradecem!


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/leituras-148596519