sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Agroecologia X Agroindústria

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Por Germano Xavier


O mundo anda revirado e com tudo ou quase tudo deslocado de sua normalidade, nem a produção de alimentos ficou de fora da bagunça. A agricultura danou-se a se disfarçar de agroindústria, e vice-versa, embocada numa neura de usufruir de métodos agrotóxicos para florescer o coração capitalista que somente visa às rentabilidades de poucos bolsos e de poucos indivíduos. Na mesa do ser humano comum, lá estão as frutas e os legumes, as hortaliças e os grãos os mais diversos, silenciosamente envenenados em seus corpos esbeltos, prontos para o baile da indigestão generalizada.

O Sr. Mercado agradece!

Pela beirada, corre a agroecologia, sorrateiramente, como a sentir que é a hora de se aprontar de vez por todas e de dar as caras. Mas por que tanta demora? Por que só agora? Por que tantos empecilhos? – questionamos nós, pobres mortais comedores do que está mais em conta pelas feiras livres ou pelas bancadas dos supermercados mundo afora, via-de-regra. Como fazer com que a agroecologia deixe de ser vista como uma forma não rentável e se torne, enfim, uma metodologia de produção eficiente em todos os sentidos? Certamente, as respostas não são tão simples quanto podem parecer.

O Sr. Mercado titubeia!

Difícil mesmo é fazer vigorar o processamento de uma efetiva transição de modelos de produtividade agrícola num planeta que gira na ordem do lucro e da desfaçatez, especificamente da convencional agroindústria, de razão industrial, promotora de monoculturas e com base na exploração dos recursos naturais, para a agroecologia sustentável, com raízes fincadas no solo do ambientalmente correto e de benfeitorias mais duradouras sob todos os aspectos analisáveis. Difícil, sim, mas não impossível.

A agroecologia, muito discutida nos nossos dias, é, pois, a ciência que se utiliza da teoria ecológica para estudar e gerir os diversos sistemas agrícolas de produção cuja mentalidade é, prioritariamente, a do respeito aos recursos naturais e, por conseguinte, a do respeito ao homem, seu maior beneficiário. O emprego dos ideais agroecológicos, de nós minifundiários e de baixa intervenção referente à aplicação de insumos externos, tende a sobrecarregar menos o meio ambiente, além de oferecer um maior e mais sadio intercâmbio homem X natureza, sem falar na qualidade do alimento fomentado por esta lógica.

O alarme soa, dia após dia. Estridentemente, por sinal. Caminhamos para o caos agrícola-alimentício. E já não estamos dentro dele? Se quisermos fugir de problemas vários, tais como os ligados à degradação do meio ambiente e de tantos outros, o melhor a se fazer é dar uma reviravolta nesta engrenagem engessada e cruel. Mas de onde partirão as ações para tal mudança? Dos governos, das ligas mundiais, de cada um de nós? Políticas públicas de incentivo devem ser prioridade no trato da agricultura não-comercial, familiar e sustentável. Uma alimentação saudável, vista aqui tal qual um direito humano, precisa ser prioridade. Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente na ordem do dia, para já!


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Cooperativas-de-agricultura-513489113

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Apontamentos sobre Fonética, Fonologia e Ensino

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Por Germano Xavier


No capítulo intitulado de A FONÉTICA, A FONOLOGIA E O ENSINO, do livro PARA CONHECER FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO, as autoras Izabel Christine Seara, Vanessa Gonzaga Nunes e Cristiane Lazzarotto-Volcão desvinculam-se um pouco do olhar voltado apenas para os segmentos estruturais das condições e dos fenômenos fonético e fonológico da língua e passam a considerar as implicações acerca do ensino e das metodologias de alfabetização tendo como ponto de apoio as bases de estudo da Fonética e da Fonologia. 

Para que tal encaminhamento se dê, as autoras recorrem aos propósitos ligados ao que concerne às relações que envolvem os processos fonológicos e as manifestações oral e escrita da língua. Deste modo, organizam ideias sobre como as noções de Linguística podem auxiliar no processo de letramento, relatam o quanto os conhecimentos fonéticos tornam-se extremamente relevantes para profissionais em fase de aquisição da linguagem e, por fim, abordam as nuances de preconceitos linguísticos que estão atrelados aos eventos fonéticos.

Com um olhar para a prática docente aliada ao uso dos conteúdos que embasam os preceitos da Fonética e da Fonologia, as autoras alcançam o patamar do ensino num diálogo simples e objetivo, revelando possibilidades de aplicação dos conteúdos das supracitadas disciplinas dentro da esfera escolar, introduzindo, também, variadas reflexões acerca destas potenciais aplicabilidades e competências. 

Partindo de uma reflexão de fundo pedagógico, onde apontam para o despreparo das formações dos profissionais da Educação, as autoras situam o leitor dentro das mais recentes preocupações curriculares e regulamentadoras do ensino, problematizando e efetuando discussões sobre o que seria mais viável a se construir diante de tantos problemas e deficiências.

As pesquisadoras, diante da complexidade e da dinamicidade inerentes à língua, haja vista que ao se tratar dela está a se debater com um constructo de ordem sociocultural e, portanto, mutável a depender das mais variadas situações de uso/necessidade, elaboram um conjunto de sugestões de práticas, como a citar uma alfabetização construída a partir da ótica da Linguística, enfatizando a relação grafema/fonema numa perspectiva de usufruto da consciência fonológica por parte dos usuários da língua.

Na metade do percurso da obra, observam elas ainda como se dão os letramentos em EJA no Brasil, citando as metodologias de Paulo Freire como contribuições avassaladoras para o progresso da construção da ensinagem em nosso país. Outro ponto de destaque na obra é a preocupação que as autoras dão aos conhecimentos fonético-fonológicos durante todo o processo de aquisição da linguagem que, segundo estudos, começa muito antes do bebê nascer.

Ao final, o preconceito linguístico oriundo de fenômenos fonéticos é tomado como centro das problematizações investigadas na obra. Destarte, numa aferição mais geral, o capítulo A FONÉTICA, A FONOLOGIA E O ENSINO, do livro PARA CONHECER FONÉTICA E FONOLOGIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO, refere-se a como as instâncias da Fonética e da Fonologia podem dialogar com o ensino e a partir de que investidas neste âmbito tais disciplinas podem ajudar tanto ao professor quanto ao aluno no tocante à produção de sentido diante das conjunturas referentes a esta qualidade de relacionamento.


BIBLIOGRAFIA

SEARA, Izabel Christine; NUNES, Vanessa Gonzaga; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Para conhecer fonética e fonologia do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2015.

* Imagem: http://www.fonologia.org/linguistica.php