quarta-feira, 27 de abril de 2016

Linguagem em (dis)curso

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Por Germano Xavier


Hoje, no amplo campo do saber linguístico, percebe-se facilmente, em se tratando dos estudos apurados e de base analítica no tocante aos gêneros textuais, que a ideia que se tem de propósito comunicativo consegue, em si, admitir um sem número de olhares sobre as práticas de um determinado gênero dentro de uma respectiva comunidade de usuários interligados.

Por observar a maleabilidade com que tal instrumento, o propósito comunicativo, subverte inadvertidamente a “ordem natural das coisas”, é que Biasi-Rodrigues e Bezerra (2012) enumeram questionamentos efusivos no interior de tal imbróglio, a procura de estruturar uma arqueologia de saberes acerca do senso/status do gênero ao final das análises, sem com isso perder o interesse para com a conceituação do propósito comunicativo enquanto critério nato de/para análise de gêneros.

Partindo dos pressupostos de base teórica atrelada ao estudo de gêneros consagrada pela denominada Escola Britânica, também conhecida como Abordagem Sociorretórica, BIASI-RODRIGUES e BEZERRA (2012) tratam no artigo intitulado de Propósito Comunicativo em Análise de Gêneros do debate em torno do próprio conceito de propósito comunicativo, atualmente percebido como sendo um dos pontos nevrálgicos do estudo linguístico mais específico dos gêneros em todo o mundo.

Para tanto, os pesquisadores supracitados centraram esforços em abordagens e perspectivas acerca das conceituações atreladas ao propósito comunicativo que foram exaustivamente investigados e aprimorados por estudiosos do porte de Swales (1990, 2001, 2004), e também de Askehave (2001), este em comunhão com Swales.

Tais estudos, proposições e perspectivas, imiscuídas à ideia de que gêneros realizam propósitos e/ou funcionam como “repropósitos”, como observado na própria reavaliação do tema feita por Askehave e Swales (2001), entre tantos outros fatores, terminaram por permitir que fossem elaboradas diversas discussões acerca do uso do todo processual do propósito comunicativo dentro do espectro funcional de uma dada análise de gêneros fundamentada aprioristicamente no que é de ambição social, o que o configura de tal modo a ser matéria basal das engrenagens analíticas, indo de encontro, portanto, à ideia que o taxa meramente como um critério direto e imediato no que concerne à identificação dos gêneros.

Com base nestas nuances e prismas de elaborativos, os autores partem da conceituação do termo propósito comunicativo, passeiam pela relação dele com a estrutura esquemática do gênero e pela visão que se tem de critério para identificação, provando sua inquestionável complexidade objetivo-funcional.

Os articulistas defendem, por fim, a relevante participação do propósito comunicativo como elemento para se estudar os gêneros em si e suas particularidades, sem fechar aí a sua largueza como utensílio da língua, ao que cabe a nós, estudantes e interessados na referida questão, cuidar para não rotulá-los, os gêneros, apenas com base em definições e conceitos parcos, a citar o de propósito ou até mesmo o de intenção autoral, que não abarcam tudo quando o assunto é a relação entre propósito comunicativo e a análise de gêneros.


REFERÊNCIA

BIASI-RODRIGUES, BERNADETE; BEZERRA, Benedito Gomes. Propósito comunicativo em análise de gênero. Linguagem em (dis)curso, Tubarão, SC, V.12, n.1, p.231-249, jan/abr. 2012.

Imagem: Google

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