terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Avô matingueiro

*

para Elizeu Xavier,
in memoriam

em pegas de boi, viu furar os olhos
da filharada-homem o graveto pontudo
do mato caatingueiro.

montou carcaça
de animal bravo, dobrou as rédeas
de uma vida avessa. armoriou o pó
das estradas solares, debruçado
na alvorada roncosa dos secos gerais.

cego dum olho, enxergou horizonte
de filho caçula. foi distante, amigo
dos destinos, arvorou lenta luta.
em cirandeados, clandestino amou
moças avulsas.

a história que não vivi
conta que Seu Elizeu, homem rude
da Cajarana, meu avô matingueiro,
havia de nos ensinar duas coisas:

que adentrados, nós, na esteira do tempo,
ninguém mata nem desmata, pois
um dia tudo se destripa.

e mesmo a flor dos cajus, a dizer ventos
mais mornos, é prenúncio: acre sumo
de gosto travoso no balé dos maturis.


* Imagem: https://blogdadeia.wordpress.com/tag/cordel-encantado/

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