sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Edição 4 do jornal O EQUADOR DAS COISAS

*
Por Germano Xavier

Setembro foi mês de ver nascer a 4ª edição do Jornal de Literatura e Arte O EQUADOR DAS COISAS, publicação especializada brotada de um sonho antigo meu e compartilhado com muitas pessoas a partir de 2012, ano de sua materialização. A 4ª edição está luxuosa, com impressão colorida  e devidamente registrada junto à Biblioteca Nacional, agora contando com seu ISSN próprio, o que eleva o jornal para outro patamar. 

Nas palavras de Carol Piva, umas das editoras do jornal:

"O EQUADOR DAS COISAS" é uma publicação semestral, independente e sem fins lucrativos. É todo ele janelas se abrindo a uma literatura o mais esquiva possível das tais "amarras-mercado" naquilo que faz a gente residuar desgostos. Propõe o diálogo com autores, seus textos e imagens, equadores que nos chegam, livre e deliciosamente, de acolás vários e, ainda, dos artistas convidados. Nossa paixão é pela escrita... palavras, sons, imagens e até os silêncios deles... este intercâmbio entre línguas e linguagens. O jornal ziguezagueia entre os t(r)atos editoriais no Brasil, Estados Unidos e agora, muito bonitamente, também na Irlanda. Uma honra-deliciúra! Tudo aqui publicado é de responsabilidade exclusiva de seus autores."

O destaque da edição 4 fica por conta da entrevista com o escritor angolano José Eduardo Agualusa, feita por Iara Fernandes. Também estão com a gente nesta edição: Eabha Rose, Maita Assy, James Wilker, Rafael Kesler, Toni McConaghle, Little Eagle McGowan, Isabela Escher, Tatiana Carlotti, Zé Alfredo Clabotti, Sara Rauch, Carol Caetano, Paulo Cecílio, Leonardo Valesi, Marília Kosby e outros.

Com um sentimento misto de honra e prazer, participamos da FLU - Feira Literária de Uberaba 2014, em Minas Gerais. Somos muito felizes por fazê-lo instrumento de revolução e de promoção de amor para o mundo e para as pessoas. Que o Equador seja sempre centro de transformações e de bonitezas.

Agradecimentos a todos que fizeram e fazem o jornal, e em especial (como sempre) a Carol Piva. Você é o equador do Equador, Carol. Embarco neste sonho reverberado e potencializado em seus dentros infinitamente lindos. Que venha o número 5!

Endereços para envio de textos para seleção/Edição 5:

Contribuições em Português, enviar para:

germanoxavier@hotmail.com
carolbpiva@gmail.com 
fernandesiar@gmail.com
tcarlotti@gmail.com
 escher.isabela@gmail.com

Contribuições em Inglês, enviar para:
 
karimelimon@gmail.com
dawgrox@gmail.com
eabharose@yahoo.ie

Participe!

Algumas imagens equatoriais (Iara Fernandes e Germano Xavier):






quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A flor na flor

*
Por Germano Xavier

(todas as fêmeas aragonitas impostoras descambam
na imagem do seu jardim de delícias)


em você há brotada uma flor
de carne orvalhada desde a boca
operando úmida ao movimento
das vontades de estame

é uma flor única
de grandes pétalas dobradas
cujo pólen se liquefaz
em mel viscoso

(para a boca
a sede é antiga)

o beija-flor em planos segundos
pousado sobre a imagem da Beleza
descobre o mistério da rosa-vulva
e célere logo opera o androceu milagre

o pequeno pássaro se agiganta
ao tocar com o bico o botão ancestral
magma-lava branca sem menosprezar
ares desce o canal dos desejos

em tal instante
a flor é para a língua
um cultivo de rotas


* Imagem retirada do site Deviantart.

domingo, 19 de outubro de 2014

Nada muito sobre filmes (Parte IX)

*
Por Germano Xavier


DRIVE

O filme DRIVE (2011), dirigido por Nicolas Winding Refn, é uma obra basicamente de estilo. O roteiro não é lá grande coisa, muito comum em longas dessa vertente. Até o fim da primeira metade, o filme faz do silêncio das cenas prolongadas um marco de captura do espectador. É realmente bonito o começo. A trilha sonora ajuda, e muito. Do meio para o fim, transforma a violência em mais um endereço para o Belo, apesar da dureza das cenas. Lembrou-me muito alguns clássicos dos anos 80 que tinham a violência sem disfarces como trunfo. A película mescla sentimentalismos e faz da sociopatia do protagonista a âncora que faz estancar o julgamento da quase inconsciência de suas ações. A todo instante, somos e estamos como/com o motorista. Recomendo a todos os mortais!


TOURO INDOMÁVEL

O filme TOURO INDOMÁVEL (1980), drama biográfico dirigido por Martin Scorsese, conta a história do Jake LaMotta, pugilista (uma espécie de anti-Rocky Balboa) que ascende profissionalmente de maneira avassaladora ao mesmo tempo que se vê derrotado em sua vida particular, por conta de seu comportamento desregrado e egoísta. É poético e dolorido. Um clássico do cinema, sem dúvidas. Filmado em preto e branco, com atuações muito convincentes e roteiro sensacional, o filme sobre o "Touro do Bronx" não pode ser deixado de lado, em nenhum momento. Recomendo a todos os mortais!


MENINOS NÃO CHORAM

MENINOS NÃO CHORAM (1999), da diretora Kimberly Peirce, é um filme denso, duro e que facilmente pode provocar indignação em quem o assiste. Baseado em fatos reais, a protagonista atende pelo nome de Teena Brandon, que quer mesmo é viver como Brandon Teena. Durante um certo tempo, ela consegue sustentar a sua identidade sexual masculina, mas o disfarce cai por terra e ela começa a ser alvo de uma violenta nuvem de preconceitos, até ser morta por um de seus amigos mais próximos. Recomendo a todos os mortais!


O BEIJO DA MULHER ARANHA

O BEIJO DA MULHER ARANHA (1985), dirigido por Hector Babenco, é uma produção cinematográfica dividida entre Brasil, EUA e Argentina. Baseado no livro homônimo do escritor Manuel Puig, o filme narra o convívio dentro de uma prisão entre Luis Molina, homossexual que passa suas horas inventando e contando filmes, e Valentin Arregui, heterossexual aparentemente preocupado apenas com seus segredos políticos. No decorrer do drama, os dois se aproximam e terminam por dividir suas dores e seus sonhos. O amor é alicerçado de uma maneira muito poética pelos protagonistas, haja vista a ambientação por demais insensível para o nascedouro de tal sentimento. Grande elenco nacional se mistura a Raul Julia e William Hurt. Recomendo a todos os mortais!


CLUBE DE COMPRAS DALLAS

O filme CLUBE DE COMPRAS DALLAS (2013), do diretor Jean-Marc Vallée, narra o drama vivido pelo personagem Ron Woodroof e é, antes de qualquer julgamento, uma bela lição de vida. Ron é diagnosticado com AIDS e os médicos dão a ele apenas 30 dias de sobrevida. A partir de então, Ron inicia uma luta quase solitária contra a indústria farmacêutica de seu país - e que também seria a luta por sua própria sobrevivência -, chegando a contrabandear produtos tidos como ilegais nos EUA e que serviriam para amenizar o sofrimento de pessoas que passavam por problemas semelhantes aos seus. Muito se fala das atuações principais, e não é por menos. O filme é realmente muito bom e merece ser visto. Baseado em fatos reais. Só achei o final um pouco fraco diante do conjunto da obra. Todavia, recomendo a todos os mortais!


ANNABELLE

ANNABELLE (2014), do diretor John R. Leonetti, definitivamente é mais um exemplar de "continuações" que não fazem jus ao filme inaugural, neste caso o bom e convincente A INVOCAÇÃO DO MAL. Fui vê-lo com muita expectativa ontem, pois admiro os bons filmes do respectivo gênero, mas a decepção ao fim foi evidente. O filme vai, vai, vai, a gente espera algo realmente diferenciado e quase nada acontece de interessante. Terminou sendo mais um "mais do mesmo". Algumas cenas louváveis, é claro, e assustadoras! Todavia, fica só nisso. Enredo fraco e muitas partes desnecessárias. Talvez valha pelo entretenimento, mas não entrará para o cânone do terror. Salve, salve, bucaneiros!


AS AVENTURAS DE PI

Revi o maravilhoso AS AVENTURAS DE PI (2012), do diretor Ang Lee. O filme é baseado no livro homônimo do canadense Yann Martel, que foi acusado de plagiar o livro "Max e os Felinos", de Moacyr Scliar. Eu já li o livro do escritor brasileiro e é mesmo impossível não identificar as semelhanças na narrativa. Polêmico, o certo é que a história de Pi é fantástica. Filho do dono de um zoológico, Pi é o único sobrevivente de um naufrágio que dizimou sua família e os animais que viajavam no convés. No bote salva-vidas, restou ele, uma hiena, um macaco, uma zebra e um tigre. Lutando contra seus medos e temores, Pi revela-se forte o suficiente para suportar as intempéries e sugere um encontro íntimo com Deus, a partir de seus flagelos e de suas conquistas diárias. Um filme para todas as idades. Um clássico de nossos tempos. Recomendo a todos os mortais!


A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO

A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO (1988), do diretor Martin Scorsese, é um filme baseado no livro homônimo do escritor grego Níkos Kazantzákis. Em meus tempos de menino, tempos também do videocassete, recordo-me que era uma película bastante polemizada. Talvez, até hoje. Hoje tive a oportunidade de revê-lo. Jesus, no momento da crucificação, é tentado pelo "mal" a visualizar como teria sido sua vida caso não fosse levado ao sacrifício em prol da humanidade. Como homem detentor de uma vida comum, Jesus passaria a ser visto como o mais reles dos traidores, a começar por Judas e Pedro. Para quem gosta de filmes históricos com teor bíblico, não pode passar sem vê-lo. Sem dúvida, um ícone do gênero. Recomendo a todos os mortais!


* Imagem retirada do site Deviantart.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Incongruentes

*
poema para a mulher dos seios disformes
Guantanamera tocava no player do coche branco

Por Germano Xavier

você me ensinava sobre Beleza
quando tirava o sutiã dentro do carro
sob os auspícios das luas claras da Chapada

antes eu acreditava que as linhas
(da vida) deviam ser perfeitas e equiparáveis

depois de você
passei a gostar das deformidades
das incongruências do corpo
das instabilidades da alma

teus seios enormes de mamilos rotundos
me revelavam as curvas que me destinariam
(eu-outsider) a partir de então
aos passos tortuosos que bem daria

o do lado direito pesava mais
era maior e não cabia em minha mão
peito generoso mas arisco

era doce o do lado esquerdo
menor e mais disponível
às sugações decameronianas

em saltos balouçavam lindos
em quiques nos perigos das apreensões
planetas de um novo sistema solar


* Imagem retirada do site Deviantart.

Padre, mãe

*
poema para a mulher que se escondia no hábito do padre

Por Germano Xavier

para você
acendo um fado português
no meio da tarde macia
de rememórias

no simbolizar o desalento
para o tempo investido e minhas culpas
de quase infância

o padre é a mãe

o ditado já diz
o hábito não faz o monge
muito menos a oração

sua mãe nem suspeitava
dos meus pensamentos
em ira por todas as trancas
o candeeiro nas ruas noturnas
nos domingos de missais
meu peito pueril não te assumia

precisei cruzar o país
e longe de pais que castram filhas
acabar de uma vez por todas
com sua candura impostora
com seus demônios de pureza

e após tanto sofrer em suas falsas falas
agora já lido em versos de Charles Bukowski
sangrado e singrado um homem como Simbad

larguei você no choro fingido
quando Goiás deixei no ônibus
de te abortar
de mim

que o caminho no escuro
imposto sob decisão interna
é lugar de olhos e almas arrancar
de luzes espocar sem falências
para novas mortes em se renascer


* Imagem retirada do site Deviantart.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A casa azul

*
Por Germano Xavier


Frida Kahlo de branco
sem sangue de mortes
mas com vermelhos de paixão
na umidade lactante dos seios
- real casa de se morar

quem, em sã engrenagem amante,
não esticaria em sucção os lábios
perante a exótica mulher em pele?

(entro no mesmo bonde
o trem vem vindo varando ventos
a força é a de um deus invertido

meu corpo fuçado
invadido estou no chão
perfurado sou)

a exótica mulher me atravessa
uma dor só

um golpe
um ferro retorcido no meio do sexo
abrindo vazão para amor inda maior


* Imagem retirada do site Deviantart.

Olhares sobre Texto, Contexto e Coerência

*
Por Germano Xavier


CAVALCANTE, M.M. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2014. 175p.

Mônica Magalhães Cavalcante tem sua trajetória acadêmica voltada para a área da Linguística e suas adjacências, possuindo pós-doutorado pela Unicamp. Atualmente, atua como professora da Universidade Federal do Ceará, coordenando grupos de pesquisa sobre referenciação, intertextualidade e argumentação. É, também, autora de vários livros abordando problemáticas ligadas às esferas da língua.

Seu recente livro, intitulado de OS SENTIDOS DO TEXTO e publicado em 2014 pela editora Contexto, está organizado em 7 (sete) grandes partes, cada qual com subdivisões particulares e muito bem dimensionadas ao objetivo pretendido da obra, que discute desde questões referentes a gêneros discursivos, passando pelas sequências textuais e compreensão de textos, indo até estudos analíticos acerca dos tópicos discursivos e da intertextualidade.

Na primeira parte, sobre a qual esta resenha se debruça, a autora empreende um percurso investigativo que burila em abordagens referentes aos conceitos de texto, contexto e coerência, enfatizando a relação existente entre estes três aparatos. Para a construção de tal percurso, a pesquisadora tece discussões acerca das diferentes concepções de texto, dos variados tipos de conhecimento e de contextos, de coerência textual e de fatores de promoção de intertextualidade.

Na primeira parte do livro, ao qual podemos chamar de Capítulo 1, há uma preocupação mais evidente em explicitar as visões gerais existentes acerca das ideias de texto que se projetam e se difundem no meio acadêmico atual, tudo isso para se chegar ao entendimento do que seja coerência, fator de textualidade de importância primordial. 

A professora fez-se buscar perguntas e alterar respostas para suas problematizações nos arcabouços epistemológicos da Linguística Textual, chegando a apresentar ao leitor as diferentes modalidades de conhecimento que estão imiscuídas no todo do processo textual, beirando abordagens sintéticas que versam sobre a promoção de construções de sentidos e de referência.

Partindo das premissas de Marcuschi (2008), Cavalcante contorna as antigas noções de texto, que o viam como elemento lógico de base autoral e, tempos depois, como produto para cuja compreensão só seria necessário o conhecimento do código linguístico, conseguindo chegar aos postulados definidos e defendidos por Koch e Costa Val apud Cavalcante (2014), autores que tratam o texto como sendo, ele, um complexo de movimentos de base interativa e que levam em conta diferentes aspectos quando de seus pronunciamentos compreensivos. 

Ainda nesta perspectiva de assimilação do texto e de suas ações compreensivas, corrobora-se no capítulo em questão a ideia já presente em Koch e Elias apud Cavalcante (2014) de que quando se está diante de textos, seja ele pincelado de quaisquer especificidades , ativam-se os conhecimentos ditos linguísticos (regras da língua), os conhecimentos enciclopédicos (memória permanente do indivíduo – também chamado de conhecimento de mundo) e os conhecimentos interacionais (formas de interação). 

Na trama que se instaura a partir do embate do leitor para com o texto, surgem outras preocupações, como as de ordem do contexto, para a autora mais um elemento de construção de sentido bastante salutar. Interessante é ver a metodologia que a professora utiliza para fins de esclarecimento de suas análises. A todo instante, dentro de OS SENTIDOS DO TEXTO, há uma apreciação de incontáveis exemplos de textos, que auxiliam o leitor na hora de efetuar a construção do saber imbrincado nas páginas escritas. 

Cavalcante (2014) utiliza-se, ao longo de todo o seu livro, de vários anúncios publicitários, notícias, reportagens e charges, entre tantos outros gêneros textuais, deslocando o leitor de sua obra para a percepção aplicada de seus questionamentos. É como se a autora desmistificasse diversas instâncias e até convenções referentes ao entendimento do texto, colocando-o no lugar de artefato complexo e dinâmico, passível de interpretações minuciosas e articuladas com elementos sociocognitivos diversos.

Não sendo tarefa banal a de se produzir ou ler um texto, Cavalcante (2014) elenca ainda implicações da ordem dos fatores de textualidade, que desembocam num olhar mais apurado do professor perante indícios de correção dos materiais produzidos ou lidos. Continuidade, progressão, não contradição e articulação são alguns dos aspectos pronunciados pela autora e que, como tais, permitem ser inscritos como identificadores essenciais do processo de construção do texto.

Talvez, a grande marca e maior mérito de OS SENTIDOS DO TEXTO seja mesmo a proximidade discursiva presente no corpo textual em relação à dualidade ensino-aprendizagem (ou ensinagem, numa terminologia mais moderna), que possibilita um uso facilitado daquilo que está em forma de linguagem verbal, impresso no papel. 

Não é difícil perceber que se trata de um livro com/sobre práticas e que existe, por sua vez, em prol da profusão de outras e reformuladas novas práticas. Ao se empregar importância ao que o professor ou estudioso de língua, por exemplo, poderia propor junto ao seu alunado ou público-alvo no tocante às conjunturas sociolinguísticas, sua leitura se torna, no mínimo, inspiradora. 


* Imagem:  http://www.editoracontexto.com.br/blog/coesao-e-coerencia-textual-o-que-e-isso/

Lições divinas

*

um presente lindo de minha ex-aluna, Júlia Anna, 
no Dia dos Professores


O professor é uma espécie de Jesus Cristo
Apesar de, muitas vezes, crucificado
Possui a missão de salvar seu semelhante
Das garras e cegueira da ignorância
Tem o dom de gerar vidas renovadas
Sensibilidade para inspirar histórias mais dignas
Humildade para entrar na "luta" alheia
Intuição para resgatar o potencial do outro
Força necessária ao estímulo da confiança
E habilidade em semear esperanças férteis

O professor não desiste do outro
Não o abandona
Acredita em dias melhores
Em vidas realmente "humanas"
Compartilha seus ensinamentos
Em forma de amor e fé
Não desiste principalmente
Daqueles "casos perdidos"
Que desabrocham em suas mãos
Exalam o cheiro do suor honesto
Em provas de seus esforços
E exemplos disseminados a seus discípulos

Uma profissão iluminada
De força, revolucionária
Antes de tudo, mestre em amor
Tem a educação como religião
E a resiliência como fé
Verdadeiros profetas!
Por isso são temidos por muitos
Que reconhecem poder em suas mentes
"Armas" em suas mãos

Seu fardo é pesado
Porém, esse sacrifício é o que liberta
Reúne seguidores os mais fieis
À sua imagem e semelhança
Abençoados em sabedoria
Fortalecidos em aprendizados de coragem
Firmes a cada passo no hoje
Crentes na vitória do amanhã
Vitoriosos em cada transformação cotidiana


Obrigado, Júlia. 
Repasso a homenagem a todos os bons professores do mundo!


* Imagem: Google.

domingo, 12 de outubro de 2014

Para ser criança, um espanto

*
Feliz Dia das Crianças a todos!

Por Germano Xavier


porque piscam luzes dentro de mim,
e eu sou apenas uma criança, arrebatada,
diante do mago brinquedo
(Rotina de Viagens, de Germano Xavier)

Escrevi o haicai supracitado lá pelos idos de 2009. O motivo de escrevê-lo, já não sei se recordo mais. Talvez nem motivado por algum acontecimento real ele tenha sido. Todavia, acerca de sua temática, rapidamente consigo detectar sua simples lógica existencial. Trata-se um haicai sobre o espanto. Um homem que, em determinado momento, enxerga-se tal qual uma criança que está diante de um mágico brinquedo, arrebatado a ponto de ficar com a alma iluminada. Sim, um pequenino poema sobre o espanto, sobre os espantos.

Eis aí, talvez, o segredo para a felicidade mais profunda: cultivar, com amor, sabedoria e longevidade, a capacidade que possuímos de nos espantar diante das mínimas coisas. Espanto é um substantivo masculino que pode significar qualquer surpresa causada por algo de singular, de inesperado. Tudo aquilo que nos causa algum susto, assombro ou pasmo. O espanto pode ser também o elixir da longa vida, dos longos sorrisos, das duradouras interações para com o mundo e para com as pessoas que nos cercam cotidianamente.

O espanto nasce na gente quando ainda somos crianças. Brota dentro e utiliza-se de nossos órgãos sensoriais para se materializar. O Belo – e dentro cabe o Feio também -, quando aos olhos do espanto, tem intensidade de perplexidade. As mãos se fecham, os olhos se abrem, as pernas tremem, enfim... o corpo inteiro aprende rápido a demonstrar espanto. O que possuímos de mais interno, por sua vez, também segue as sensações sentidas e observadas por nosso lado exterior. O espanto é movido e motivado pela Beleza. 

As crianças enxergam o Belo com mais facilidade, pois estão olhando as coisas pela primeira vez. As crianças inauguram as coisas e o mundo cada vez que se espantam. Espanto é encanto. Espantar-se é encantar-se. Os adultos, muitas vezes, perdem tal habilidade. Muitos adultos não se deixam encantar. Encantar-se é uma forma de encontrar a Deus. Rubem Alves reforçava isso: “Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança. Está sempre à procura de companheiros para brincar”.

Em tempos de se comemorar a criança que há em nós, semear espantos em nossos corpos e almas torna-se atitude urgente para que não deixemos morrer nossas infâncias de maravilhas. Ser criança é querer e fazer o que se quer sem temer a nada nem ninguém. Quando nos tornamos adultos, ser criança não é apenas se esforçar mentalmente para se voltar ao passado e agir como um dia agimos, mas olhar o futuro com olhos desenvoltos, armados de uma liberdade conquistada com o aparecimento dos fios brancos na cabeleira, tentar viver o que é real e elaborar realidades para o que ainda é sonho. E sonho, todo mundo sabe, sonho é espanto dentro da gente. 


* Imagem retirada do site Deviantart.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O pão e as rendas

*
Por Germano Xavier

o pão
- ou a maçã que alimenta -
fermenta por debaixo
das pequenas dobras da carne
das suaves rendas brancas

é líquido o pão
é líquida a maçã

rio de água de sabor agreste
sentido fluido por entre lábios

a apurada correnteza
os lacrimais suores das coxas
o naufrágio das línguas

o pão

* Imagem: Google.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Rubem Alves e a arte de embonitar o trivial

*
Por Germano Xavier

Num minúsculo excerto intitulado “Falar”, presente em seu livro DO UNIVERSO À JABUTICABA, o campinense Rubem Alves, falecido em 2014, escreveu: “Há um princípio para o falar que tento obedecer, mas não consigo. No entanto, acho-o absolutamente correto: “Só fale se sua fala for melhorar o silêncio”. Se a sua fala não melhorar o silêncio, é preferível ficar calado, para que o silêncio seja ouvido. Estou me exercitando nesse princípio e acho que estou falando cada vez menos. Até se queixam de mim como sendo má companhia em festinhas alegres”. Pois bem...

Eu poderia enumerar várias passagens marcantes do supracitado livro, mas me atenho a esta citada no parágrafo acima para justificar um pouco do que estive pensando há poucos instantes. Rubem Alves sempre foi visto com certa (ou seria incerta?) desconfiança por grande parte dos supostos “entendidos” da sapiência tupiniquim, principalmente pela intelligentsia que perambula pelos meios acadêmicos e que, incontestes vezes, julga-se detentora do conhecimento máximo e utilitário existente no mundo. 

Já ouvi vários professores falarem mal ou desconversarem sobre a real importância de alguns autores que são, de fato, fundamentais para se pensar determinados segmentos sociais e/ou epistemológicos. Mas, por que assim percebem a obra de Rubem Alves e de tantos outros grandes nomes das literaturas? Só pelo fato de Rubem Alves ter refletido e escrito acerca das coisas aparentemente “mais triviais” da vida? Somente pelo fato deles terem olhado com sutileza o ser humano, suas feiuras e suas bonitezas, ou porque o seu legado maior – no caso de Rubem Alves - fora redigido em formato de crônica, este gênero que já nasceu taxado de literatura menor e que ainda hoje é visto com certa restrição por várias pessoas do ramo? 

A minha resposta-pergunta pode estar coerente e suscitar algumas verdades, todavia também pode funcionar como uma espécie de provocação. O referido cronista não está só quando o assunto é desprezo ou pouco apreço a obras que não dialogam com uma determinada “cientificidade”, quase sempre gerada e gerida seguindo um ordenamento bossal, faustamente frio, mas que tem o poder de legitimar o verbo, empoderando muitos que não o merecem e diminuindo o mérito de outros que são mais do que reis em suas áreas. 

Perto dos 30 anos de idade comecei a descobrir a obra de Rubem Alves, um sujeito-autor que escreve simples sobre caquizeiros e crianças, mas que também fala de coisas “mais sérias”, e que mesmo quando não escreve nada daquilo de que eu realmente gostaria de ouvir, sempre soube me presentear com momentos belos de silêncio, o que é fascinante para mim. Ler o silêncio dos outros é mágico. Aprender com ele, sensacional! Até quando escrever sobre nossas maiores banalidades é ser inferior? Até quando taxaremos com um "serve" e um "não serve" a literatura de nomes de real expressão?

Rubem Alves é o tipo de escritor que, quando fala ou até mesmo quando não fala, consegue melhorar o silêncio. Melhora os meus silêncios, não sei os seus. Não posso falar por você, até porque somos tocados por sons os mais diversos. Nos quesitos educação, sociedade e humanidade, Rubem Alves foi um monarca, merece nosso apreço e nossa leitura. Porém, que não seja nada aprofundado ou sistemático, pois foi poesia o que Rubem Alves escreveu em todo o seu percurso vital. E poesia, como diria Manoel de Barros, não é para entender. Poesia é para incorporar.


* Imagem: Google.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

A suprema dança das orquídeas

*
Por Germano Xavier

“Não é possível não dançar.”
(Y. Yevtuschenko, poeta russo)

Deus é um dançarino. The lord of the dance, imaginemos. Sapateia mais que Michael Flatley. Deus está nas pequenas coisas e nos mínimos acontecimentos. Deus está nas grandes coisas e nos eventos monumentais. Deus é um marco, um começo sem fim. Deus também é um fenômeno. Olhe para você, aí, agora, prostrado diante do mundo todo! Somos o símbolo máximo da existência divina. Muitas pessoas já escreveram o que acabei de escrever. Mas eu jamais havia escrito o que acabei por escrever neste exato instante. Deu-me vontade.

Deus não construiu templos, não precisou nem precisa. Deus é um insetinho colorido que pousa em nosso antebraço. Deus é maravilha. Maravilhas, melhor dizendo. Melhor assim, no plural. Deus é a própria Beleza. Deus é o Belo. Deus é o Feio. Deus é. Deus sempre foi. Deus sempre será. Todo mundo um dia descobre a Deus, todo mundo um dia descobre um Deus. Todo mundo um dia se descobre. Todo mundo um dia pode se descobrir Deus. Todo mundo um dia pode achar que Deus é uma farsa. Deus pode ser ou não ser efêmero.

Eu conheci Deus num dia de muita angústia e solidão. Eu estava perdido no mundo, longe de minha família, longe de quem realmente se importava comigo. Num quarto alugado, numa cidade que nunca permitiu ser minha, ligando para uma alma salvadora qualquer que me entendesse debilitado, nem a senhorinha dona do estabelecimento-pensão podia ouvir os meus gritos de silêncio. Deus me apareceu naquele cômodo, na noite mais fria que já suportei. Deus me pareceu o Amor.

Depois do torvelinho noturno, eu era esperança e olhos fumegantes de amor pela vida. Deus me esbofeteou na primeira oportunidade que tivera. Depois da queda, levantei como um titã. Peguei o rumo e a estrada, pus a mochila nas costas e singrei caminhos de renovação interior. Foi quando aprendi a nunca desistir de nada, principalmente a nunca desistir de fazer bem ao próximo. Foi quando aprendi que se eu não fizer o meu passo, ninguém jamais o fará por mim. Deus estava me ensinando a dançar. Eu, que até então sempre havia sido duro de corpo, aprendia ali que a alma também possuía molejo.

Dali por diante, Deus estaria sempre sendo apresentado a mim, mesmo nas piores derrotas. Derrotas também nos dignificam, não é verdade? Deus havia se transformado em jardins e labirintos, em ruas sem perversidade, em distâncias superadas, em sorrisos profundos, em palavras sem opressão, em gostos os mais devidos, em fortalezas insubornáveis, em regras de liberdade, em metáforas reais, em corações para amar, em mãos para plantar árvores de Bem.

Soo clichê e não me importo com isso. Deus é também um clichê. A vontade que se transmuta em Bem, por sua vez, não é um clichê. É nisto que me assento. Deus é o Bach que escuto agora. Deus é a melodia de Bach. Deus é o dedo de Bach. O instrumento. A música. Deus é a possível dança que pode ou não ser dançada. Deus, como disse anteriormente, é um marco, um começo sem fim. Deus está onde menos esperamos. Deus sapateia mais que Michael Flatley, eis uma certeza. Deus dança, eu sei. 


* Imagem retirada do site Deviantart.

sábado, 4 de outubro de 2014

Nada muito sobre filmes (Parte VIII)

*
Por Germano Xavier

O SEGREDO DA CABANA

O filme O SEGREDO DA CABANA (2011), dirigido por Drew Goddard, faz jus aos comentários elogiosos que andou recebendo de vários entendedores do cinema. Um exemplar do gênero horror que cativa muito, apesar de não ter potencial para se tornar referência. O filme lembra muito o clássico The Evil Dead no início, mas do meio para o fim surpreende com referências diretas aos filmes desta esfera e com incontáveis novos elementos empregados. Uma bela crítica à sociedade do espetáculo e todos os seus Reality Shows da vida. Vale a pena conferir. Recomendo a todos os mortais!

F FOR FAKE

F FOR FAKE (1973), do grande Orson Welles, não é um filme comum. Está mais para um documentário sobre as verdades e as mentiras que perfazem a Arte e seus meios de conversão. Não é um filme de fácil digestão, é duro. Muita filosofia, psicologia e literatura costuram a película. Para quem já viu CIDADÃO KANE, chega a ser necessário ver F for Fake. "Para muitos, 'F for Fake' é a melhor defesa de Welles contra as acusações de que ele teria se apropriado do roteiro de 'Cidadão Kane'. Welles - que criou esse filme a partir de um documentário de François Reichenbach - demonstra a natureza ilusória da autoria e da verdade." Filme para ver e rever. Foi a última produção de Welles. Recomendo a todos os mortais!

DE VOLTA PARA O FUTURO (PARTE I)

Para reviver um pouco dos anos 80, DE VOLTA PARA O FUTURO (1985), do diretor Robert Zemeckis, com pitadas de Steven Spielberg. Pegar carona no DeLorean DMC pilotado por Marty McFly e ir rumo ao passado desconhecido para tentar fazer o futuro melhor é, realmente, fazer uma viagem no tempo, quase que literal. Um clássico pop de meus idos de menino, que já virou um cult da cinematografia. Recomendo a todos os mortais!

DE VOLTA PARA O FUTURO (PARTE II)

O tempo é um negócio muito louco mesmo. DE VOLTA PARA O FUTURO II (1989), do diretor Robert Zemeckis, confirma isso. Na continuação do clássico pop/cult estadunidense, recheado de comédia, a aventura se passa 30 anos depois do ano base para o enredo (1985), no ano de 2015 - é engraçado observar qual era o imaginário que se tinha deste ano no fim dos anos 80 do século passado: carros voadores, balconistas virtuais etc. Boa dose de entretenimento numa película que marcou época. Recomendo a todos os mortais!

DE VOLTA PARA O FUTURO (PARTE III)

Que me desculpem os fãs da trilogia, mas DE VOLTA PARA O FUTURO III (1990), do diretor Robert Zemeckis, não deveria ter sido feito ou deveria ter sido feito de outra forma. O filme é uma forçação de barra geral e quebra todo o encanto que existe nas partes I e II. A impressão é a de que a narrativa não evolui para lugar algum. Quem assiste fica procurando algo no meio do tiroteio dos diálogos mornos e sobre nada, mas só encontra balas perdidas de emoção e coerência. Eu gostei da homenagem que fizeram aos westerns e ao escritor Jules Verne. Todavia, há quem diga que é o melhor episódio da franquia. Enfim, gosto é gosto. Salve, bucaneiros!

ACOSSADO

Vi agora o filme que é tido por muitos como o maior exemplar da Nouvelle Vague francesa: ACOSSADO (1960), do "cineasta-filósofo" Jean-Luc Godard. Uma película que versa sobre a relação entre um cafajeste e uma inocente fingida, passando por discussões pontuais sobre o amor, a morte e a vida. Dizem as "más línguas" que existe o cinema antes e o cinema depois de ACOSSADO. O filme é de qualidade, deveras, nada parece ser gratuito e há brechas para que reflitamos sobre diversos temas universais. A bela Paris como pano de fundo. Atmosfera outsider e um elogio aos automóveis também fazem o filme interessar mais. "Carro é para andar, e não para parar.", relembra o personagem Michel quando a bordo de um Chevrolet Bel Air no início da narrativa, numa alusão direta a Ettore Bugatti. Para ver e rever incontáveis vezes. Recomendo a todos os mortais!