sábado, 31 de março de 2012

Fugir


 Por Germano Xavier

Um tema que muito me intima ao pensamento e à reflexão é a errância. Muito já li sobre este tema, muitos estudiosos já se debruçaram e/ou se debruçam sobre este tema. Tanto é meu fascínio que já quis trabalhar isso numa dissertação sobre a obra Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Fato que certamente ainda vai me render algumas páginas nesta vida. Semana passada fui atraído pelo livro “Fugir”, de Jean-Philippe Toussaint. O livro é uma viagem infindável sobre o universo do ir. O final do livro é muito bonito. Para os leitores de plantão, fica a dica.

terça-feira, 27 de março de 2012

1.100 textos no Equador das Coisas!


 Por Germano Xavier

O Blog O EQUADOR DAS COISAS completa hoje 1.100 postagens publicadas em sua página virtual desde o ano de 2007 e, para comemorar este marco, fará o sorteio de um exemplar da revista Continente Edição 71. Para participar, é simples. Basta comentar esta postagem com os seguintes dizeres: "Eu quero ganhar a revista sorteada pelo blog O EQUADOR DAS COISAS", juntamente com o nome completo e sua cidade. A última pessoa que comentar esta postagem (só vale se for esta postagem) até às 24 horas de hoje, dia 27 de março/2012, ganhará a revista. Vale comentar quantas vezes quiser. Depois de identificado o vencedor do sorteio, entrarei em contato com o mesmo para pegar o seu respectivo endereço e enviar o material pelos correios. Se o ganhador for da cidade de Iraquara-BA ou localidade próxima, pode vir pegar a revista em minha residência.


Estrutura e gênero



o branco é feito do negro
o negro é certo que é branco
quando abrimos a janela
na manhã solar
deixamos o branco do mundo
invadir nossas escuridões
pintados de breu no amanhecer
somos tocados pela alvura do dia
e nos desestruturamos
para estrutureSER.

18º poema-imagem/imagem-poema da série Preto-e-Branco:Poesia.
Fotografia de Daniela Gama.

A criança como personagem


 Por Germano Xavier

Esta semana realizei a leitura do livro “A invenção de Hugo Cabret”, do Brian Selznick, e uma questão povoou meu inconsciente-consciente antes, durante e depois da leitura: por que a figura infantil nos atrai tanto? De onde vem toda esta empatia quando a personagem principal de uma obra de arte é uma criança? E por que nós a adoramos ainda mais se ela é, além de infante, pobre, maltrapilha, astuta e metida em encrencas dignas de gente grande? Não nos custa muito averiguar isso, pois modelos assim não nos faltam, seja na literatura, no cinema ou em quaisquer outros suportes artísticos. Basta lembrarmo-nos de personagens como Oliver Twist e David Copperfield, do escritor Charles Dickens, só para citar mais dois exemplos. Hugo Cabret é uma espécie de revisitação aos nossos mais internos apegos de vida, um regresso ao que a nós deveria ser sempre de caráter ulterior, um postulado sobre a infância vivida em toda a sua extensão, dobrada em aventuras e descobertas mil. Parece ser uma maneira de saudade esta nossa empatia para com espécies infantis. Parece ser um remorso conosco, uma forma de dizer: Ei, adulto, o que você fez de mim-criança? Será?

segunda-feira, 26 de março de 2012

A doente



 Por Germano Xavier

Aquela mulher não podia estar bem. Ao menos não aparentava. De maneira alguma aquela mulher poderia estar em condições normais, corpo e alma, corpo ou alma. Parecia estar numa temperatura mais elevada, mais de quarenta graus, uma febre impossível, seu rosto revelava-lhe uma vermelhidão quase terrível. Uma mulher ainda nova, coitada. Cinqüenta e dois anos é uma idade onde muito do que nos acontece pode ser apenas uma novidade, uma novidade simplória por se saber ser simples, pois existem aberturas para surpresas várias no decorrer dos anos que ainda podem vingar, e o futuro, todos sabem, é um doce cozido na lenha do tempo. Porque se pensarmos bem, podemos sim contar o tempo. O tempo não é tão senhor assim das horas que são nossas. Mas este mesmo tempo havia manchado nuances suas antes imaginadas como intocáveis. Ela era uma mulher dura por natureza, mas o tempo pode sim ser mal, muito mal. Como a pele do rosto, agora flácida, com vincos que mais pareciam vaus secos por onde nem lágrimas poderiam mais escorrer. Como se se acaba assim?, perguntei-me próximo a ela, depois de tê-la avisado que voltaria outro dia para lhe deixar a encomenda que a mim fora incumbida. Uma das poucas perguntas que lhe fiz durante todos estes anos de convívio. Acredito que ajudamos muito quando o assunto é autodestruição. Deus também nos deu o direito à precocidade da morte. E quem cuida de tudo isso é o tempo. Ela, a morte, por parecer, ou melhor, por estar óbvio demais no semblante alquebrado da mulher, devia ter feito um boníssimo trabalho junto àquela senhora. Porque podemos continuar mesmo que o caminho seja de pedra, podemos fenecer se um jardim não for bem regado. Tudo pode aparentar, senão, uma questão de prioridades. O marido era um sujeito sem escrúpulos, faltava-lhe com o respeito todos os dias, todas as horas, escondia a aliança no porta-luvas do automóvel toda vez que fazia uma de suas viagens misteriosas. Era caixeiro-viajante, vendia de tudo, comprava de tudo e, se possível, negociava até almas. A mulher estocava paciência na despensa do seu coração. Quinze anos de convivência com aquele monstro. Não sei como agüentava tanto sofrimento. Era incrível, mas ali estava ela. Mulher parida na dor, mulher parideira de dor. Os filhos, dois meninos lindos, eram como se fossem uma espécie de salvação para ela. Depositava neles a esperança por dias mais tranqüilos e destituídos de acontecimentos ruins. Mas nem assim podia ser suportável. Aquela mulher estava doente. O sorriso estava triste, a face abatida, os ombros caídos. No café da manhã derrubara a xícara de café na frente de todos, agitação. No almoço, percebiam-se os talheres tremerem quando em suas mãos, grãos de arroz e feijão despencavam do garfo como pequenas pedras em queda livre. Havia certo desespero na cabisbaixeza de seu olhar, um ar de intranqüilidade mórbida, doentia. Havia algo dentro dela que estava sem controle, e que permanecia, suspeitável a ser algo muito, mas muito perigoso. Talvez um vírus, uma bactéria anômala estranhamente bem desenvolvida, um verme qualquer ainda desconhecido pela ciência, incógnita. Mas uma coisa havia de estar certa, naquela casa quase monumental da Rua Vieira e Sylva, 234, esquina com a Avenida Comendador Olegário Lopes, onde aquela mulher vivia com seus dois filhos, a empregada e o marido viandante, ninguém percebia, mas eu sabia em mim que existia uma mulher precisando de bastante ajuda. Sei por que eu a conheço de bons anos. E sei por que depois que fui até aquela suntuosa casa na última quinta-feira, feriado nacional, perturbou-me o seu estado de afetação, mesmo este estrado num silêncio cru e parco. A mulher não tinha vontade, os filhos andavam de um lado para o outro dentro da casa, brincando com colegas de escola, o marido entrava e saía com certa urgência, resolvendo coisas e aprontando mais novas de suas antigas partidas de destinos impensáveis, e ela simplesmente sentada no sofá largo de veludo na sala de estar, incólume a tudo e a todos, elaborando um nada absolutamente sufocante do ponto de vista de quem a enxergava pelos ângulos possíveis do aposento. De sua boca, poucas palavras transbordavam e caíam no mar do ar. Era como se houvesse uma densa floresta impedindo-lhe o caminhar harmonioso. Pela voz de algum amigo, fiquei sabendo que ela havia ido a alguns médicos a fim de fazer exames de rotina. Nada havia sido constatado. Nenhuma irregularidade de ordem corpórea. As precauções que lhe foram recomendadas foram as básicas, tais quais as proferidas a qualquer um que se comportasse dentro da esfera de sanidade do ser humano. Ela visitou parentes no interior, fez passeios por lugares nunca antes desbravados, fez-se mergulhar em águas cristalinas no sul do país, e nenhum de seus próximos conseguia reconhecer nela algum distúrbio de toda sorte. Pensei em receitar algum chá da próxima vez que a casa dela eu fosse. Ou talvez um calmante para aliviar um pouco do estresse. A última opção seria indicar-lhe a clínica psiquiátrica do Dr. Euclides Dória, exímio consertador de mentes destrambelhadas. Porém, uma coisa fez-me escolher o silêncio mortal e achar que, finalmente, não havia doença nenhuma naquela senhora. Foi quando cheguei no outro dia a fim de entregar-lhe a encomenda. Estava sentada, com os cabelos molhados como que vinda do banho, seu rosto possuía duas cavidades muito perturbadoras. Ela segurava em uma das mãos, com uma candura indiscutivelmente silenciosa, seu par de olhos verdes da cor do jardim na primavera.

Beija eu


flor
flora
flor agora

amor
amora
amor agora

beija eu?

17º poema-imagem/imagem-poema da série Preto-e-Branco: Poesia.
Fotografia de Daniela Gama.

Por derrotas vencíveis



 Por Germano Xavier

Por mais que eu tente, logo te desprezo. A tua fachada pobre e sem vida, imagem de toda a tua fraqueza, não me acena nenhum tipo de esperança. Nenhum sorriso sairá de mim, até que mudes de endereço. Tua calça velha, esta tua camisa desbotada... por mais que eu tente, jamais conseguirei perceber que a verdade vive onde os olhos não podem ver. O mundo tapa, o mundo cega. O belo é certo e pronto? Ferrugem irreversível, sem conserto? A mente do homem imunda, inunda-mundo. Por mais que eu tente, jamais conseguirei perceber que a sabedoria reside onde os olhos não podem ser. Os olhos mentem, iludem a alma? Corroem o fascínio da realidade? E a pior arma contra uma amizade são os olhos da imaturidade? Por mais que eu tente, não consigo enxergar que a simplicidade é um bem que não podemos comprar. A vaidade domina, faz a cabeça. Lentamente vamos, aos abismos. Desaba-se pela falta de atitude e pela desmedida ignorância. Por mais que eu tente, não consigo perceber que o homem não se veste, não se calça... o homem não é isso que você vê? Somos todos iguais. Por mais que eu tente, eu não consigo enxergar que a aparência engana a face do homem vulgar. Porque há vencedores! E ao vencedor, um tempo inteiro de noite com direito a um desmoronamento psicótico sem retorno. Ao vencedor, o postiço e inverídico adágio do velho amor que não machuca. Ao vencedor, a magistral essência daquilo que te engole inteiro como um bicho famélico, colérico e já sem esperança pelo bem. Ao vencedor, o espartano avanço da tropa que esfacela a alma já esparsa de sentimentos. Ao vencedor, toda uma logosfera austera imputada ao vermelho mais sanguíneo, mais sanguinário. Ao vencedor, todo um deslinde esmiuçado ao fervor de um esquartejamento de carnes fervoroso, úmido, que esculpe um novo homem em pedaços partidos. Ao vencedor, o cerceamento inextrincável no corpo todo de um redil guardando as ovelhas desgarradas de um só pastor. Ao vencedor, a intervenção das armas no peito aberto e marcado pelos mísseis sentidos. Ao vencedor, toda a labialidade do arauto que traz no pergaminho a mensagem das horas finais. Ao vencedor, o morango amargo que alegoriza qualquer desfecho sem final. Ao vencedor, as honrarias da desgraça da condição humana de se sentir fraco diante da solidão. Ao vencedor, o desatrelamento salutar de si para si mesmo como forma de beijar a totalidade vital. Ao vencedor, o bem e o mal. Ao vencedor, a agonia de ser. Ao vencedor, a nódoa na manga da pele que envelhece. Ao vencedor, a justiça dos anos dos naufrágios, das catástrofes interiores, das guerras sem veneno. Ao vencedor, a paulatina e angustiante despaz do corpo. Ao vencedor, as saudades do cheiro que você sugou como quem estivesse sem o ar da necessidade. Ao vencedor, o gatilho que apunhala, a foice que abocanha, a guilhotina que tece a lógica do caos. Ao vencedor, o choro sem vergonha. Ao vencedor, o escatológico ambiente de lamber o prato. Ao vencedor, um mundo inteiro de inverdades. Ao vencedor, a atitude de flanar sem rumo, o espelho do desgoverno, o afluir tempestuoso, o desbunde sem valor, a margem marginal. Ao vencedor, nenhuma cara, nenhuma vaga normalidade, nenhum agasalho contra a madrugada que mata de inércia e falta de história, nenhum, nenhuma. Ao vencedor, a certeza de que você não é nada, nada, nada, absolutamente nada. Ao vencedor, a dúvida de que você pode tudo, tudo, tudo, absolutamente tudo. Ao vencedor, a certeza do único jeito no ombro pintado de uma mulher. Ao vencedor, as batatas humanitistas da doída filosofia de sonhar, de sonhar, de apenas sonhar... E ao perdedor? Algumas coisas ficam conosco para o resto de nossas vidas, como aquele suvenir da infância que nos preencheu alguma falta depois que nos faltou durante todo o dia alguma espécie de ornato para que o dia fosse também mais colorido, ou como algum instante de luz maior que a própria claridade natural quando resolve fugir e ser apenas penumbra. Hoje posso ter a sensação única da totalidade de mim, mesmo sabendo que ainda não sou só isso. Arriscar o caminho da rua noturna, desafiar os fantasmas da rua e caminhar em direção ao meu fantástico paraíso. Meu porque só eu posso visitá-lo, meu porque só eu tenho as chaves dos portais que dão para a morada dos deuses. Sem grandes alegrias no quarto onde recobro minha consciência diariamente, encaro a rua da minha loucura. E, confesso, não me arrependo. Até quando precisarei do doce artificial que a vida me proporciona? Até quando não conseguirei vencer minhas vaidades? Até quando me portarei fraco diante dos verdadeiros medíocres? Até quando? Acreditar que a morte é a superação da dor talvez não seja a melhor escolha. Talvez não seja. Minha angústia pode estar amplificada. Devo continuar a refletir sobre a minha inumanidade e na humanidade dos homens - se é que tal virtude já existiu. Penso se ainda há em mim um resto que seja de infância e não chego a nenhuma conclusão. Hoje, perto do quintal fantástico da casa onde cresci e vivi a plenos pulmões até perto de meus quinze anos de idade, surgem certezas, num primeiro momento, desanimadoras. É quando eu me pergunto onde ficou aquele corredor interno onde eu chutava bolinhas feitas com papel amassado enrolado em meias velhas e furadas de um lado para o outro, quando me pergunto onde guardei todos aqueles caminhos bem sinalizados das estradinhas que eu mesmo fazia com giz ou caco de telha quebrada para logo depois começar a carcomer a pele de meu joelho de tanta alegria e euforia pela tarde inteira que deus me dava, quando me questiono sobre aquele menino tão cheio de sonhos e fantasias, procurador de coisas para inventar entre os ferros retorcidos e as geringonças quebradas no quarto das bagunças, quando me interrogo sobre os muros que tanto quis pular e pulei; quando tudo vem e o baque é tão grande que a gente precisa segurar firme no corrimão para não tombar pelos degraus da nova escada... Pergunto-me se me fizeram o animal que hoje sou, ou se eu já era assim pré-determinado. É que a gente sempre corre contra o tempo, mas ele sempre nos espeta a pílula da metamorfose. E, no meu caso, o efeito parece que ficou pela metade. Devo acreditar que sou uma criatura em processo, que atravesso um período alguma coisa parecida com o que costumam chamar de transformação. Eu tenho medo porque li Kafka e sei das consequências de uma mutação não desejada. Porque uma coisa que quero nessa vida é não incomodar as outras pessoas, ou incomodar pouco. E quando aqui me recolho para mais uma reflexão, a cadeia da contradição se alastra em mim, porque eu gosto de ler, escrever, do silêncio, de não ir, de não falar, de observar, e de outras coisas que só sabem ser agentes perturbadores. Minha forma de ser e de agir na maioria das vezes não passa despercebida. E pronto, turbilhão vivo! É o momento de exorcizar os demônios e tentar seguir em frente, porque obtive nítidas confirmações acerca de minha animalidade gentil. O certo é que hoje, depois de muito pensar e especular, minha vida passou despercebida, ao menos para mim. Para amanhã, guardo expectativas. Porque o hoje já se foi e o que eu tenho de certeza são meus vinte e poucos anos de idade. Não sou novo, não nasci ontem. Se eu quiser, posso já me considerar um velho. Ter vinte e poucos anos de idade é já ser velho, pelo menos para mim, é já ter uma vida longa vivida. Mas isso só se eu quiser. Por enquanto, não quero. Melhor deixar como está. Não vai mudar muita coisa se eu já me der o título de idoso. Não conseguirei nem uma cadeira prioritária num destes ônibus da coletividade. Se para idosos-idosos a coisa já está feia, imagine para mim, um pseudo-decrépito-autointitulado-sem-cabeça-alva. Sigo, dessa forma, minha odisséia. Não existe vida mais bonita que a minha. Leia-se "bonita" como "propícia às histórias livrescas e fenomenais, baseadas em eventos catastróficos-ínfimos de natureza casual-ou-não". E se você disser que não existe vida mais "bonita" que a sua, eu vou acreditar e aceitar, porque a vida de cada um é a vida mais "bonita" que existe. E a minha é a vida mais "bonita" que existe, e você deve aceitar sem titubeações. E um dia eu ainda descubro o porquê dos escritores quase sempre estarem certos... Mas, cuidado, amanhã posso agir como um ser deletério. Posso nocivo ao meu passado. Posso destruir coisas. Repito, posso destruir coisas.

domingo, 25 de março de 2012

Circo gera polêmica em Iraporanga-BA

O circo fechou uma das principais vias da vila de Iraporanga, em Iraquara-BA.
Por Germano Xavier


"E hoje, tem espetáculo?", costumava perguntar o palhaço quando passava nas ruas da cidade em cima daqueles carrinhos maltrapilhos, mas muito animados e coloridos. "Tem sim, senhor!", respondia uma voz infantil no mesmo alto-falante já gasto pelo tempo, ao passo que alguns poucos animais eram expostos em passeata. A meninada corria solta atrás daquele ser fantástico de roupas coloridas e de nariz vermelho, que parecia vir de outro mundo (e não vinha mesmo?) e que saía distribuindo balas e guloseimas para todos. Era assim em nossas infâncias quando um desses cirquinhos mambembes aportavam do além-distante em uma de nossas pracinhas. Pronto, estava dado o recado para mais uma noite de pura alegria. A bem da verdade é que o tempo passou e a atividade circense já não encanta mais nossas crianças e adolescentes como outrora. E para não morrer de uma só vez, alguns circos tiveram de adaptar o discurso de suas trapalhadas e acrobacias para o gosto pós-moderno dos tempos de agora, regado com piadas de muito mau gosto, diga-se de passagem, de sentidos ambíguos e puxando, muitas vezes, para o pornográfico gratuito. Alguns pais, desavisados, encaram a aventura e se encarregam de acompanhar os filhos menores que, com raríssimas exceções, adoram e se divertem. Afinal, ali, diante do pequeno picadeiro, é todo mundo em uníssono formando um só cordão de gargalhadas. Nada contra os circos e a atividade circense, muito pelo contrário. Acho até que faltam políticas públicas de incentivo a esta nobre arte, a de fazer sorrir, e que não damos o devido valor a este povo nômade que vive, muitas vezes, na precariedade da condição humana. Todavia, este pequeno artigo opinativo não tem a intenção de falar bem ou mal do circo e de seus atores, mas sim de jogar luz a uma discussão que vem se alastrando nas últimas duas semanas na vila de Iraporanga-BA. O roteiro é aparentemente simples: o circo quis se instalar na vila, conseguiu autorização da Prefeitura Municipal de Iraquara e zás!, como num passe de mágica e com muito pouco tempo estava armado o circo – ou o barraco, para quem assim o preferir -, literalmente, sem que houvesse uma pesquisa mais aprofundada no tocante à privacidade dos moradores do referido local. E aí é que surgiu o problema. Içaram as lonas na entrada da cidade, numa de suas vias principais, e o que é pior, impedindo o tráfego normal de automóveis e pedestres, invadindo frentes e calçadas de casas, dificultando o acesso de alguns moradores aos seus próprios aposentos, além de os prejudicarem com o som alto e desalinhado nos momentos de funcionamento, que geralmente invade as últimas horas da noite nos fins de semana. Ainda na primeira semana de permanência do circo na vila muito se falou, o prefeito compareceu ao local, mas nada foi feito de fato, o circo permaneceu lá, tal qual uma máquina extraviada de um conto do J.J.Veiga, causando estranhamento e muitas dores de cabeça em parte da população. E então, quem está certo, a prudência de alguns moradores ou o autoritarismo de meia dúzia de pessoas? E o direito que temos de ir e vir (temos mesmo?), onde fica tudo isso? E o pessoal do circo, onde fica nessa história? Qual seria o melhor papel a ser feito pela Prefeitura Municipal de Iraquara num caso desses? A quem condenar, o povo, o circo ou o poder? Por que ainda insistimos em não praticar o diálogo antes de intervenções desta natureza? Deixo as perguntas e as respostas nas mãos e mentes de vocês, leitores. Até porque o dia 27 de março, Dia Internacional do Circo e do Teatro, vem chegando aí e só o que desejo é vida longa ao mundo circense, à paz e à compreensão entre os seres humanos.

sábado, 24 de março de 2012

O logro


Por Germano Xavier 

Poema Pop-Reproduzido para a menina dos tsurus.

Vou lograr a cada hora entronizar a memória.
Vou lograr a cada hora valer a primazia do encantamento.
Vou lograr a cada hora penar a distância.
Vou lograr a cada hora lembrar símbolos.
Vou lograr a cada hora produzir sorrisos.
Vou lograr a cada hora sorver reminiscências.
Vou lograr a cada hora impedir os fins.
Vou lograr a cada hora desviar lacunas.
Vou lograr a cada hora amainar palavras.
Vou lograr a cada hora ser uma hora.
Vou lograr a cada hora ter ulteriores sons.
Vou lograr a cada hora desproblematizar alacridades.
Vou lograr a cada hora esconder dejetos.
Vou lograr a cada hora registrar o amor que você me deu.
Vou lograr a cada hora cometer sempre a audácia do nos permitir.
Vou lograr a cada hora adorar seus autores.
Vou lograr a cada hora odiar a tenebrosa arte de viver sem você.
Vou lograr a cada hora respirar teus ares.
Vou lograr a cada hora a impossibilidade de nos escaramuçar.
Vou lograr a cada hora o enlace in loco que nos falta.
Vou lograr a cada hora desconchavar imagens imperfeitas de você.
Vou lograr a cada hora sussurrar panegíricos em voz ativa.
Vou lograr a cada hora o tino de ceder.
Vou lograr a cada hora homologar os pedacinhos de você de dentro da minha cabeça.
Vou lograr a cada hora a leveza de te saber.
Vou lograr a cada hora ter sede de tuas novas.
Vou lograr a cada hora permitir que os pequenos fragmentos de ti não se despeçam.
Vou lograr a cada hora serenar a ideia de que um dia será para sempre.
Vou lograr a cada hora acalentar teus ruídos.
Vou lograr a cada hora amplificar o desejo de realidade.
Vou lograr a cada hora a grandeza de tua existência.

Hugo Cabret achado no tempo


Por Germano Xavier 

Um final para o livro “A invenção de Hugo Cabret”,
de Brian Selznick


E então, como se acostumou sempre a fazer, Hugo saiu correndo do restaurante onde todos laureavam o velho Georges Méliès por toda a sua belíssima história de vida agora revista e revisitada. Isabelle ainda tentou segui-lo, mas não adiantou. O menino já estava no meio de uma rua cinzenta de Paris, voando com suas pernas de mágico recém-descoberto. Não, não era mais Hugo Cabret que seguia a sua sombra, e sim o Professor Alcofrisbas. Alguma coisa dentro dele dizia que era assim que tudo ia ser dali por diante, que nada nem ninguém poderia impedir a realização de seus sonhos. Ao invés de se prender aos cuidados do velho cineasta já no fim da vida, Hugo remoeu o passado como quem joga embora no terreno do esquecimento uma mancha nodoenta da memória. Hugo partiu para dar de cara com o mundo, fazer estrelas dentro do interior de sua cartola fantástica para depois jogá-las ao céu, iluminando tudo e todos. Hugo era assim, menino determinado, aplaudido de pé por ele mesmo, sabedor de suas forças. Tinha partido o meninote, talvez para nunca mais, um nunca mais que somente ele saberia o significado. Isabelle sentiria saudade mais tarde, quando todas as luzes da casa de Georges tivessem sido apagadas para mais uma noite de descanso. Mais tarde começaria a escrever um livro, talvez, um livro sobre Hugo, um livro sobre o ladrãozinho que conhecera na velha estação de trem. Pouco tempo depois o grande cineasta morreria, levando dias empós sua querida esposa, de uma doença chamada saudade. Hugo certamente saberia de tudo após alguns dias, mesmo estando longe. Hugo saberia, não havia dúvidas quanto a isso. O certo é que o tempo nunca mais havia sido o mesmo depois da história de Hugo Cabret e seu autômato. Na velha estação de trem os relógios nunca mais precisariam de regulagem, bateriam firmes e compassados em suas horas bem marcadas, como se um fantasma de Hugo estivesse sempre de prontidão para realizar a manutenção necessária. Até o inspetor mudaria, soube-se que o coração lhe parecia mais ameno, até porque chega uma hora em nossas vidas que nenhuma espécie de aprisionamento nos coloca vivos, e então chega a hora de mudar, de fazer diferente. Outra certeza era a de que o tempo nunca iria parar. Na cabeça dos transeuntes que passariam todos os dias pelo interior daquela velha estação, a lembrança de um menino amante da criatividade reinava absoluta. Era a alma de Hugo Cabret, dócil alma incorruptível, armada sempre para o desafio, a nunca sossegar os ponteiros que insistiriam em nos revelar a beleza dos invernos quando estes morriam.

Apontamentos sobre Psicologia do Desenvolvimento


 Por Germano Xavier

• A Psicologia do Desenvolvimento estuda a evolução do ser humano em todos os seus aspectos, ou seja, no que concerne aos aspectos físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e também social.

• Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns de uma determinada faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos.

• É de extrema importância estudar o desenvolvimento do ser humano, pois isso também significa descobrir que ele é determinado pela interação de vários fatores.

• Físico-Motor: refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercícios do próprio corpo.

• Intelectual: refere-se à capacidade de pensamento, de raciocínio.

• Afetivo-emocional: refere-se ao modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências.

• Social: refere-se à maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas.

• Sensório-motor: de 0 a 2 anos. A criança conquista todo o universo que a cerca; coordenação do movimento das mãos, olhos, uso de instrumentos, aceleração de habilidades, emoções primárias.

• Pré-operatório: surgimento da linguagem, interação com outros indivíduos, aceleração do pensamento, sentimento interindividuais, maturação neurofisiológica completada.

• Operações concretas: conhecido como Infância, início da construção lógica, lida com as operações, sabe sequenciar ideias ou eventos, vontade, cooperação.

• Período das operações formais: conhecido como Adolescência, pensamento formal, manipulação de conceitos, exercício de reflexão, ponto de vista, início de conflitos internos...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Autômato-Tempo


Por Germano Xavier 

Um poema para Hugo Cabret

no automático
que giramos a hélice-ponteiro
no automático que brindamos
todos os dias
a morte com corpo de vida
no automático que emprestamos
Tempo
ao Tempo que não temos

no automático
(pulso em movimento)
o mar perde-se dos olhos
a gaivota entoa um sono
e quem navega longa água
é quem suspeita do fim

automático
o homem cronometra o recorde
dos passos automáticos
dos passos autônomos
dos passos passados
dos passos do mesmo homem
sem aço nem vigor

quinta-feira, 22 de março de 2012

A mulher do elevador


 Por Germano Xavier

Manhã de muita chuva numa capital. Lá fora os carros estão parados na principal avenida de um dos bairros mais emblemáticos da cidade. Minha mãe precisou fazer uns exames, alguns de rotina, outros não. Viemos em três, pai também. Cidade grande só para passear mesmo, isso ultimamente. A chuva é muito forte, repito. Mas chegamos, o moço no saguão informa o andar certo. Muita gente esperando o elevador certo para o destino certo. O nosso demorou. Os outros vinham cheios e voltavam mais cheios ainda. O mundo está ficando cheio demais, pensei. Todos os elevadores tinham uma pessoa para comandar o apertar dos botões dentro de seus respectivos cubículos. O sujeito passa o dia todo subindo e descendo, preso dentro de um quadrado minúsculo, sofrendo aqueles solavancos esquisitos que os elevadores nos pregam. Um cara desses deve morrer mais cedo por conta de algum problema craniano, sei lá. Mas o nosso chegou, entramos. Principalmente subimos. Sala 1147. A mesma rotina de sempre a das clínicas de saúde. Sentei, esperei. Principalmente esperei. Pronto. Fim do suplício. Quase hora do almoço. Saímos os três, passos para o setor dos elevadores, décimo primeiro andar. Objetivo: pisar em terra firme outra vez. Uma mulher vestida com um fardamento vermelho cantarola lendo uma pequena revista. Toco o botão verde avisando à máquina que precisamos dela aqui no andar onde estamos. A mulher cantarola ao nosso lado. Ela é uma mulher que trabalha em um dos elevadores, todo mundo podia facilmente suspeitar. A espera leva mais de 20 minutos. A mulher cantarola por mais de 20 minutos. Eu fico abismado olhando aquela mulher que trabalha de guia de elevador e que veste uma farda vermelha e que lê uma pequena revista cantarolando sem parar. Isso é um absurdo, penso na hora, em plena hora do almoço? O sinal apaga, o elevador chega, nós entramos, a mulher permaneceu lá fora esperando o elevador de trabalho dela. Olhei a mim mesmo no espelho do interior do cubículo metálico de fabricação alemã. Meu rosto ainda era um rosto abismado. Apertei o T.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Larga ilha de assombros


Por Germano Xavier 

para Suzana Durães

larga ilha de assombros
é a vida
implana
ilharga amarga
doce
(mais doce que o doce de batata doce?)

larga ilha
é a vida
encostada, recostada
rodeada de águas insanas
de acres memórias em tantas

de surpresas celestiais de céu escuro
bolas enormes de fogo caídas do nada
iluminando a escuridão

de desconcerto no encontro secular
a vazão do inconsumível
eis a ilha
eis o homem
ilhado sem ilha
(sem Tempo)

sábado, 17 de março de 2012

Paloma


Por Germano Xavier 

Para Paloma Aimée,
colega de jornalismo que lia Jack Kerouac comigo,
in memoriam.

Pomba.
Voo longe, muito longe.
O que é visto daí de tão longe?
O que é visto daí de tão perto?
Pomba-correia-nos, please.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Retalhos ( I )



Por Germano Xavier

I
Ela lavava a roupa como se estivesse lavando a alma.


II
Poetas são passarinhos, simplesmente voam, e nada mais que isso, mesmo sabendo eles que não há ação mais bela que voar, nada mais ostensivo.


IIINo fim do dia, a tarde febril corou-se de carmesim.


IV
Dormir é cobrir o corpo de noite.


V
- Mãe, tô saindo de casa!
- Então vista uma roupa, meu filho.
- Não precisa, mãe.
- Como assim?
- É que eu vou poetar!


VI
Vento ventania vem viaja voa vai...


VII
Outro dia me perguntaram se eu tinha medo do amor.
Eu respondi que tenho.


VIII
No meu aniversário de julho, ganhei um amor novinho em folha. Mas o melhor de tudo foi ouvir o crepitar do papel de embrulho quando comecei a tomá-lo para mim. Todas as expectativas são mesmo mágicas.


IX
Preamar
Mar pr’amar
Pra amar
Você


X
Dicionários...
O meu,
quase duas mil páginas.
Quanta poesia, meu Deus!


XI
E que sina é esta, tamanha,
de estar sempre se machucando?
Pátria mãe gentil, Brasil!,
a tua sorte, quem viu?


XII
Vender-se–á poesia no varejo,
a um preço único:
o do desejo.

XIIIa) Idade da Pedra Lascada:

Coca! Cola! Coca! Cola!

b) Idade da Pedra Polida:

Uga, Uga! Uga, Uga! Uga, Uga!

c) Idade dos Metais:

Uhr, Uhr, Uhr, Uhr, Uhr, Uhr...


XIVNão há nada mais bonito que a luz
de uma estrela pequenina.
Claridade sem lâmina a dizer:
embebeda-te, ó cancioneiro!


XVExiste tanto na pouca distância
que nos separa e nos priva
de vivermos... não imaginas
quanto...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Notas sobre a notícia e o jornalismo


 Por Germano Xavier

De acordo com as teorias construcionistas, a citar a estruturalista e a interacionista, podemos concatenar, de antemão, que as notícias são o reflexo – não no sentido de transposição, mas no de construção - de um trabalho de ordem coletiva, o que até aqui não deixa de ser apenas uma análise óbvia. Todo trabalho/produção denota a utilização de critérios e métodos para sua realização. Com o trato noticiário não é diferente. As notícias são como são, não porque elas são matérias pré-concebidas ou pré-moldadas, reflexos da realidade, como defende a Teoria do Espelho, mas sim porque existe a necessidade da lapidação desse objeto, desde o momento em que ele é apenas um acontecimento até o instante em que ele é transformado, com a utilização de inúmeros recursos, em notícia propriamente dita. O jornalista é, aqui, visto como um ourives, um talhador, pois é dado a ele a função ou o poder de “dar vida” ao fato. Claro, não podemos deixar de associar o fato de as próprias notícias serem construções, ou seja, é evidente a possibilidade do próprio acontecimento ser resultante de interações que dependam dos fatores organizacionais e dos mapas culturais acionados pela figura do repórter. Aqui, estamos diante de outro ponto importante: as notícias são também o que são por representarem um interesse próprio que não o individual, porém jamais sendo de caráter imparcial – trato mais plausível quando das ferramentas ligadas às teorias da ação política, posto que as teorias construcionistas negam o caráter de distorção das notícias. Se é imparcial, óbvio também, elas podem ser distorcidas. As teorias construcionistas falam da interação entre fonte, jornalista e sociedade, uma espécie de cultura profissional. É importante salientar aqui, novamente, o corpo do aparelho jornalístico (empresa, editoriais, jornalistas). Há na teoria estruturalista um quesito bem fechado diante do que pode ou não pode ser notícia. Acredita-se piamente no que é de ordem primária e basal. A credibilidade e a legitimidade dos fatos só são conquistadas ou reconhecidas se o material for oriundo de fontes oficiais. Essa visão vai de encontro aos que defendem a teoria interacionista, que dizem haver a possibilidade clara de que algo proveniente de outras fontes/bases, que não as oficiais, possam, e com boas chances para tal, tornar a ser um produto final e polido. Nesse ínterim, também surgem outras condições que fazem das notícias o que elas são: uma delas é o desenvolvimento e a acurácia com duas problemáticas fundamentais: o tempo e o espaço. É preciso estar onde o fato/acontecimento ocorre. Decorrente disso, há uma preocupação com a divisão das várias facetas do espaço de trabalho: mundo em áreas, jornais/empresas em editorias, ou seja, uma segregação do aparelho como um todo. Valoriza-se o instantâneo/atual em detrimento do recém-atual, que já se constitui em passado. Uma estratégia de organização e otimização de toda a produção jornalística. Tomando como pressupostos fundamentais e inerentes à prática e ao exercício do jornalismo, podemos inferir que as notícias são como são porque simplesmente utilizam desses recursos, sem nunca se esquecer dos interesses e dos possíveis interessados. Outro ponto de destaque, em todo o campo jornalístico, dizem tratar-se dos critérios de noticiabilidade que envolvem a construção da produção da notícia, tais quais os critérios substantivos e de produto. São vários os critérios de noticiabilidade, tomando em consideração as diversas abordagens/teorias que o jornalismo enquanto ciência perfaz. Aqui, os valores/notícias revelam, com justiça, os seus reais significados. Tudo inteiramente e intensamente relacionado. As características construtivas da notícia, algumas já citadas anteriormente neste mesmo texto, tornam ainda mais perceptível o caráter de construção/produção que a notícia agrega. O trabalho de artesão do profissional desse segmento é ainda mais indispensável, tendo ele que fomentar um ordenamento para a efetuação de suas capacidades, o que se costuma chamar de “rotinas produtivas”. Trabalha-se a apuração, a seleção e a publicação/materialização do fato com a finalidade de – e aqui eu repito o termo – “dar vida” ao que é, principalmente, atual, estritamente avesso ao cotidiano ou ao que foge ao natural (caráter extraordinário), ao que se refere ao grau hierárquico da fonte, ao que é de interesse de um contingente maior de pessoas, ao que atinge de forma hierárquica os segmentos sociais (quanto maior for o interesse das classes mais altas, mais noticiável é o fato), o que diz respeito ao capital que move este setor. Sendo assim, torna-se viável e de bastante funcionalidade/praticidade o respeito aos critérios que fazem o constituinte-mor do jornalismo – sem esquecer a importância da gestão da linguagem, das diferenças e particularidades de cada meio, como o televisivo e o impresso, da necessidade do uso de uma linguagem diversificada de acordo com o material-produto, as questões que giram entorno das novidades, entre tantos outros pertinentes aos critérios de produto -, a notícia ou o fato-noticiável, a mercadoria mais preciosa e motor de toda essa engrenagem, daí a importância das rotinas produtivas no processo de produção das notícias. Toda rotina produtiva implica em um exercício de disciplina. Em contrapartida, todo exercício de disciplina nos remete a uma aplicação mais ordenada e eficaz de todo o aparelho e dos conhecimentos/experiências adquiridos durante toda a vida profissional do jornalista. Existe, através do emprego desse conjunto de ferramentas, uma probabilidade mais reduzida de se observar desperdícios e ramificações de caráter dispensável nas notícias. Dentro das rotinas de produção, três são os pilares que as suportam: a apuração, a seleção e o ato final, que é o endereçamento, em forma de texto/imagem, edição da notícia ao leitor/ouvinte. Esse processo, que parece ser demasiado simples, implica em diversos encadeamentos - tudo se faz muito importante, sem falar na relevância das agências de notícias e do bom uso dos memorandos, ou seja, das notícias planejadas. Por exemplo: no momento da apuração, o jornalista deve ter e manter uma rede de fontes críveis, a ponto de tornar mais ágil e dinâmico o seu esforço. Isso acontece, também, nas outras duas fases (seleção, publicação). Seguindo esses direcionamentos, que são tanto do aparelho da empresa quando do indivíduo, o jornalismo consegue, na maioria das vezes, cumprir o seu papel de informar integralmente e instantaneamente o público ao qual se destina. Destarte, é fácil entender o jornalismo como importante forma de conhecimento devido a simples fatores, tais como:

• O jornalismo é um aparelho produtor de conhecimento de rápida circulação, de fácil absorção e extremamente popular; é o único meio de produção e interação intelectual de muitas pessoas no mundo; é meio fomentador de discussões concernentes aos mais diversos segmentos sociais; é, querendo ou não, formador de opinião e de consciência crítica, servindo de ponte para as mais variadas conquistas ideológicas etc.

Caravana Circuitos Arqueológicos visita cidade de Iraquara


 Por Germano Xavier

Na última quarta-feira, dia 25 de janeiro de 2012, a cidade de Iraquara-BA recebeu a visita de uma caravana com integrantes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) e também da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. A comitiva faz parte de mais uma etapa do cronograma de eventos do Programa de Pesquisa e Manejo de Sítios de Arte Rupestre da Chapada Diamantina (Circuitos Arqueológicos). O projeto foi idealizado pelo professor da UFBA, Carlos Etchevarne que, entrevistado, contou: “A primeira vez que vi pinturas rupestres na Bahia foi na área de Iraquara, muito interessantes para pesquisa e com demasiado potencial para visitação turística. A nossa proposta é a de fazer um mapeamento em vários municípios pertencentes à Chapada Diamantina e propor um roteiro de visitação politemática, porém embasada na visita a locais com a presença essencial de pinturas rupestres. Também procuramos informar e formar agentes patrimoniais, pessoas ligadas às localidades onde ficam os pontos turísticos, para que eles mesmos possam estar capacitados nos quesitos de gestão e conservação dos patrimônios. Além disso, pudemos detectar, ao longo desses anos, que muita coisa precisa ser melhorada, como os elementos de acessibilidade, só para citar uma. Por sua vez, o prefeito de Iraquara, Edimário Guilherme de Novaes, destacou a importância da presença do Secretário de Cultura da Bahia na cidade, “até porque precisamos construir um Centro de Cultura em Iraquara e intensificar cada vez mais a presença de turistas em nossa cidade, que tem muitos e importantes pontos de destaque nesta área. Não tenho dúvidas de que a presença dele aqui é um bom sinal para o caminho que estamos trilhando”. Edimário disse ainda que “a Prefeitura de Iraquara apóia este projeto por saber que é de interesse de toda a população”. Já o secretário de Cultura municipal, Júnior Solon, lembrou que todo esforço em prol da preservação de nossa cultura será muito bem-vinda. “Iraquara hoje tem cerca de 25 painéis rupestres, e precisamos de projetos assim para ajudar na conservação de todo este patrimônio e fazer no município de Iraquara um turismo sustentável”, reforçou. Antônio Albino Canelas, secretário de Cultura da Bahia, revelou que a preocupação básica é também a de promover a integração de todas as cidades envolvidas para fazer circular um turismo mais consciente e que deixe recursos para as localidades, o que por outro lado também ajuda a desenvolver um sentimento de identidade nas populações que foram atingidas. “Ou você envolve as comunidades e faz com que elas sintam na pele o quanto isso é importante, ou nenhum processo de preservação de patrimônio tem eficácia. Porque não é o Estado ou as prefeituras que ficarão fiscalizando. Quem vai acompanhar a boa utilização e o bom uso desses recursos naturais são as comunidades interessadas”, retrucou. Além de Iraquara, as cidades baianas de Morro do Chapéu, Palmeiras, Seabra, Wagner e Lençóis também foram beneficiadas.

Poemato


Por Germano Xavier 

Um salve a todos os poetas de verso e de alma que conheci durante minha vida até então.
E outro salve aos que ainda irei conhecer.
Sem a poesia eu não não vivo nem o mundo gira.

eu tô passando de fase
tô poematando
tô passando, mermão
de poeta de verso
pra poeta de alma
tô poematando
tá na cintura
a arma
tá carregada
embaleada no corpo
tá na mente, na ginga, no passo torto
tá tinindo, tá tilintando
tilintanto
tô quase lá
quase pronto
tô pra poematar

terça-feira, 13 de março de 2012

Uma crônica em três tempos


Tempo I - Maria, a neta polivalente

Por Germano Xavier

Ela tinha tudo para ter sido apenas mais uma Maria dentre outras Marias, mas o destino quis com ela fazer diferente. Esta Maria na verdade escreve Anna como primeiro nome para assinar os documentos mais importantes - assim mesmo, com dois enes. Anna Maria Félix dos Santos, a filha do emblemático seu Douzinho e de outra Maria, a mãe. Maria diversa, Maria múltipla, de uma sabedoria incomum, mistura de mulher-mãe, de menina, de avó. Humana, como as demais Marias e também os Joões iraquarenses, forte e fraca, destemida, mulher de se ir à guerra, de sangrar e dar a própria vida em troca de uma causa maior: a vida. Dupla, rudimentar mulher moderna, sem adjetivos que a classifiquem, olha para o hoje e para o amanhã sem jamais se esquecer do passado.

Esta Maria foi gerada dentro do seio de uma família tradicional da cidade de Iraquara, a família Félix. Cegamente obcecada por um conservadorismo natural àquela época, viu-se a atravessar as correntes pesadas do tempo antigo na obrigação de obedecer em tudo aos seus pais, o que a fazia sentir-se enfraquecida diante do silêncio a que era imposta durante todos os primeiros anos de sua vida. Foi assim que, durante muito tempo, aguentou a carga da quase-inércia das horas naqueles idos. Mas esta Maria era uma Maria autêntica, e sendo assim arranjou forças para atravessar inúmeras barreiras ligadas à mulher, vencendo com o passar dos dias toda espécie de submissão e escrevendo sua história com muita garra e força de vontade.

Maria é hoje patrimônio vivo de Iraquara, mas nem só em chãos ricos em carbonato de cálcio, que permitiram que a região possuísse o segundo maior parque espeleotemático brasileiro, riquíssimo em formações raras em grutas e cavernas, ela viveu. Maria foi mais uma daquelas Marias que começaram a crescer após ter conhecido o significado da palavra sofrimento. Uma Maria que percebeu que seu estado latente de ser não era o caminho mais curto em direção à felicidade. Família, convívio social e trabalho foram as maiores causas para o brotar acinzentado de vários de seus dias. Mas como tudo na vida sofre uma reviravolta, eis que Iraquara, esta criança, cedo ou tarde viria a lhe reservar inúmeras satisfações.

Para ela, a cidade grafada em língua Tupi e com o significado de “toca de mel”, em referência ao poço de água cristalina e salobra que atraiu os primeiros viajantes tropeiros e possibilitou que em seu derredor fossem construídas aos poucos as primeiras casas de descanso para as pessoas e animais, para sempre se tornaria sua jóia mais preciosa. Razão para uma paixão desmedida, esta Maria não podia caminhar por uma outra trilha.

O bisavô desta Maria foi, segundo ela mesma conta, o fundador da cidade diamantina, que em 05 de julho de 2009 fará 47 anos de emancipação política e territorial. Por estes e outros fatos, Maria se sente na obrigação de cuidar da sua filha Iraquara, paixão que certamente durará o tempo necessário à eternidade. Hoje, já entrada em anos e firme em convicções, deseja continuar sendo uma zeladora da história da cidade, buscando se dedicar ao máximo no intento de difundir e promover a esfera cultural da localidade.

Através da expressão de sua palavra, seja em prosa ou em verso, Maria tenta, com unhas e dentes, perseverar nesta ação transformadora. Sapiente das inúmeras dificuldades para com o trato e a valorização do fazer literário, Maria segue sem desistir, lembrando do passado:

- Teresinha, já decorei todas as poesias de Guiomar Chagas, a sobrinha do doutor Américo²!
- Então, recita uma aí pra ver se é mesmo verdade o que você me diz.

Foi lendo as poesias da colega de classe Teresinha, quando ainda morava em Ponte Nova¹ e contava seus 15 anos de idade, que germinou o gosto pela arte poética nesta Maria. Vendo-se desafiada a recitar poemas escritos por Guiomar, lá ia a Maria provar que a poesia entrava fácil pela couraça do seu espírito, demandando apenas uma maior dedicação ao trabalho de artesã das letras. Enfim, foi lendo Guiomar que esta Maria virou poeta. Admiradora do movimento romântico, Maria também percorre os campos da poesia que enaltecem a geografia privilegiada da região, assim como o desprendimento necessário para psicografar textos.

Certo dia, conta ela, entre o dormir e o não-dormir, entre o devaneio e sono, teve uma visão. Olhou para o teto e viu uma caravela a se aproximar, flutuando sobre nuvens, cercada por raios de luz com pontas preenchidas por pequenas estrelas. Encontrava-se além da sua própria imaginação, como parece ter sido todo o seu percurso vital. Médium-católica, voz-sentir, psicofônica, intuitiva, constituída de pressentimentos, professora polivalente de história, geografia, L.P.L.B, Religião, Educação Moral e Cívica, Filosofia et caetera, esta Maria um dia sonhou que era uma rosa no meio do jardim cheio de outras rosas e beija-flores. Sonhou simples, como quem apenas quer ser parte de todo o colorido de um tempo, sem suspeitar que ela, esta Maria de vanguarda, bem poderia ser todo o roseiral.


Notas.
1- Hoje cidade de Wagner-BA.
2- Américo Chagas, médico.

P.S. Esta crônica é a primeira parte de uma trilogia baseada numa entrevista com a escritora iraquarense Maria Neta - como é mais conhecida -, realizada no início do ano de 2009. Este texto faz parte do Livro-Reportagem intitulado "Iraquara - Em memória de Nós", que escrevi em 2009 (ainda não publicado) e com o qual realizei defesa de TCC do curso de Comunicação Social - Jornalismo em Multimeios no Departamento de Ciências Humanas III (DCH III) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).

domingo, 11 de março de 2012

Quando a infância é agora...


Escrito por Cláudia Lemos
Para Germano Xavier

Vem uma criança, entrando de rompante pela porta da frente, expulsando o adulto pela entrada dos fundos. Saem pernas curtas e sem medo de riscos, correndo de dentro de casa pra rua: pés-no-chão da alegria. Mãos maestram as cores dos brinquedos-imaginários, processando a magia da liberdade. Goza-se o prazer do olhar ingênuo e dentro dele uma vontade de viver e comer todos os doces, oferecidos pela guisa-levada de vitrines inacessíveis das vendas, doceiros e quituteiras. Mastiga-se a gula entre sorvetes e pipocas, cachorro-quente e mariola. A boca sempre lambuzada, as solas dos pés com cor-de-chão e os olhos aprumados ao céu, voando com as pipas-asas, desviando-se das marimbas. Os joelhos arranhados, machucados, tatuados pelas aventuras - descrição de travessuras. Cotovelos escurecidos de apoiar-se, para desafiar a gravidade, ver o arco-íris ou o outro lado do muro. E, de soslaio, um olhar atento voltando-se sempre ao portão de casa à espera de um grito sair pela porta em convocação para o retorno ao porto-seguro (proteção do Ser infante em regras e regimentos), quartel que cozinha o adulto que será. Se há chuva e lama, a alegria encharca o corpo, pra ser sovado, depois com palmadas ou castigos, ao penetrar a casa-adulterada limpa, todo sujo de molecagem, de estrepolia cheio e inflado de coragem. Banho tomado, lanche na mesa e a espera do pai transformam a criança que foge e se esconde sob a mesa, para surgir o poeta, personagem nascido da acuidade materna, na representação de costumes. Num reflexo simultâneo, entra o tutor familiar pela porta de trás, sempre entreaberta, a fim de espreitar a criança escondida em textos, que constroem contextos de fuga. Olhares severos guardam-na e aguardam para o combate, caso outra criança queira pulsar, no meio da sala de estar.

sábado, 10 de março de 2012

A menininha


Por Germano Xavier 

Para minha afilhada, Sofia Gama.

espelho, espelho meu,
toc, toc, quem sou eu, que sou eu?
quem me fia, quem me fia?
é o mundo, é o mundo?
é a vida, é a vida?
quem me tece, quem desfia,
o que nem mede nem se confia?
toc, toc, espelhinho meu,
atrás de mim, quem vem?
quem, sem?
sou eu esta menininha?
sou, novelo, de deus, que só fia?
eu me chamo Sofia.
sou Sofia?

16º poema-imagem/imagem-poema da série Preto-e-Branco: Poesia.
Fotografia de Daniela Gama.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Por uma paz exageradamente lenta


 Por Germano Xavier

paz, eu quero paz
a paz de um passarinho
no ninho sem pressa
sem vento
eu quero paz, paz
para passar sem medo
no meio do vendaval
no meio do matagal
no meio do bem ou do mal
somente a paz
a paz de um lugar sem fim
de uma dor acolhida na relva, no pasto
no sempre ir adiante, para frente, além de mim
uma paz eu quero para mim
uma paz sem passagem
de passagem
que marcasse um ponto X
paz-tesouro
eu-pirata, bucaneiro
eu inteiro
vivendo, amando, rumando
na paz, na paz, na paz...

15º poema-imagem/imagem-poema da série Preto-e-Branco: Poesia.
Fotografia de Daniela Gama.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulher especial no Dia Internacional da Mulher





No Dia Internacional da Mulher, eu mando flores para uma mulher muito importante em minha vida: Letícia Palmeira, ou simplesmente Branca.

terça-feira, 6 de março de 2012

O Natal de Baltazar


Por Germano Xavier

É véspera de Natal e Baltazar encontra-se muito indeciso: não sabe o que presentear ao seu melhor amigo, o ratinho Martin, na noite natalina. Porém, Baltazar resolve pegar sua coleção de bolinhas de gude, seu brinquedo predileto, e trocar por um boneco para ser o maquinista da locomotiva de Martin na loja de brinquedos do senhor Merlim. É véspera de Natal e o ratinho Martin encontra-se muito indeciso: não sabe o que presentear ao seu melhor amigo, o Baltazar, na noite natalina. Porém, Martin resolve pegar sua linda locomotiva, seu brinquedo predileto, e trocar por um caixa guarda-gudes na loja de brinquedos do senhor Merlim. Na noite de Natal, os dois trocam os presentes e percebem que alguma coisa deu errado. Este é o enredo do livro O Natal de Baltazar, escrito por Emma Kelly, Marie-Helene Place e ilustrado por Caroline Fontaine Riquier. Só não conto o final. Boa leitura, bucaneiros!

Germano na Macondo 4 e no Relevo 19

O mês de fevereiro nem bem começou e já me trouxe boas novidades. Informo a todos os leitores do Equador das Coisas, com muito prazer, que cinco haicais e dois poemas de minha autoria foram publicados na Revista Macondo 4 e no Jornal Relevo 19.

Clique nos links abaixo para ler:


Um poema para a pequena mulher do amor antigo


Por Germano Xavier

Um poema muito abalado por Charles Bukowski, que tinha razão...
o amor é mesmo um cão dos diabos.

conheço uma mulher
que segue caminhando pelo sol
sem medo do sol
sem receio do longe
do estranho
sol que se encaixa
lua que desencaixa
areia branca sem mar

ela é de desordem
tem o peito curto
a boca boa
a bunda grande
leve, astuta, ela é ardente
sem saber resolve todos os problemas
vem e vai
ondulando
vive perto do fazer acontecer
(que mistério é este que ela carrega na mochila cheia de cores?)
ao longo de muitos anos nos conhecemos pela via mais correta,
o destino. foi assim, sabe, sem paciência de ser paciente, logo aconteceu.
encontro, pum. porta fechada e nós a sós. foi o paraíso, nosso segredo.
fizemos mais que amor, fizemos saudade.
sempre duro a partida.
estávamos amorfos, molduras de um quadro nu, parado no tempo.
ela ia tomar banho e eu ficava imaginando ela tomando banho
(ela devia fazer sempre o mesmo).
a gente se respeitava. amor respeita?
ela não era simplesmente. ela era em mim.
ela me contou toda a sua história. ninguém conta toda a sua história assim de graça. eu gostei de ouvir toda a sua história, mesmo sendo toda a sua história. eu queria fazer parte de toda a sua história. a gente só vive assim, quando somos parte de toda uma história. então eu fui.
então ela veio.
e com ela fui mais. a gente até tomou café sem café juntos na cama, ela me protegeu. disse que o quarto estava muito iluminado, que era preciso uma penumbra silenciosa. ela lembrou da frase. é, eu faço frases.
mas nada é sem efeito.
o corpo dela, por exemplo, bateu em mim.
colamos. gozamos, nem preciso dizer. amor é um termo obsoleto tipo “gozar”.
a gente sabe que não é nada disso, mas sabemos.
o bom é isso. engraçado foi no final.
o dono do hotel ficou chateado comigo, de cara feia,
porque ele a viu subindo as escadarias para dormir comigo por dois dias.
eu disse que só tinha uma pessoa no quarto,
que tinha sido ilusão de ótica dele.
o dono do hotel não entende quando duas pessoas se tornam um só corpo e um só espírito.
coitado dele, peguei minha moto e sumi na reta.

Definhamento


 Por Germano Xavier

as árvores também rezam
também pedem perdão
seus galhos: suas mãos
louvando o divino
clamam, reclamam por águas descaídas
suas hastes amam a folha no chão
partes de suas almas partidas
humo agora
massa que vermeará a terra ardida
e que criarão o limite
a exaustão do ser
do existir
da vida

14º poema-imagem/imagem-poema da série Preto-e-Branco: Poesia.
Fotografia de Daniela Gama.

sábado, 3 de março de 2012

Visão


 Por Germano Xavier

olhar altivo
a tarde de cima das nuvens
escolher o que ver
e ser
sentenciar a vida
na altura cativa
de saber mais
dos segredos
dos mistérios
dos teatros da vida
e enxergar na terra
o além-céu
espelho imaginário

13º poema-imagem/imagem-poema da série Preto-e-Branco: Poesia.
Fotografia de Daniela Gama.