sexta-feira, 20 de julho de 2012

A prática da literatura em sala de aula



 Por Germano Xavier

INTRODUÇÃO


A arte da Literatura já existe há alguns milênios. Ela é uma imitação da realidade, ou seja, uma invenção. O autor cria uma realidade imaginária, fictícia, mas o universo da ficção mantém uma relação viva com o mundo real. Um dos seus primeiros efeitos benéficos é a linguagem, uma sociedade sem Literatura escrita, se exprime com menos precisão, clareza, correção e criticidade. A palavra tem poder e seu poder ultrapassa os limites da simples significação, chegando aos limites da construção do real, a possibilidade da realidade.

Esta pesquisa se destinou com a finalidade de detectar como é vivenciada a prática do ensino de Literatura em sala de aula no 1º ano do Ensino Médio em uma escola pública estadual da cidade de Petrolina – PE. Tal pesquisa realizou-se com sucesso. Detectou-se a concepção do ensino de Literatura na série pesquisada, a satisfação dos educadores em ministrar a citada disciplina, bem como a satisfação dos alunos quanto a vivência da prática da Literatura em sala de aula. Identificou-se também possíveis erros e/ou contradições na metodologia empregada pelos professores.

Baseando-se em respostas tidas por meio de questionários compostos por indagações objetivas e subjetivas pertinentes ao ensino de Literatura, aplicados aos docentes e aos discentes, da série mencionada, e, utilizando-se do método de observação, a finalidade desta pesquisa foi captar subsídios para o maior êxito da mesma.

Assim, com este intuito, estabelecemos como objetivos específicos:

a) Identificar a concepção do ensino de Literatura no 1º ano do Ensino Médio;

b) Focalizar o nível de satisfação dos educadores em ministrar tal disciplina;

c) Detectar as satisfações tidas pelos discentes a respeito de suas vivências em sala de aula no que tange a Literatura;

d) Identificar possíveis erros e contradições na metodologia empregada pelos professores de Literatura no colégio pesquisado.

Ressaltamos que os resultados desta pesquisa não têm o propósito de definir metodologias e políticas definitivas da prática do ensino de Literatura na escola pesquisada, no entanto, podem contribuir para uma discussão do modo como vem ocorrendo a referida prática em sala de aula.

Assim, no primeiro capítulo deste relatório, está contida uma breve abordagem histórica sobre o objeto de estudo do mesmo. No segundo capítulo, o referencial teórico no qual nos baseamos, orientamos nossa pesquisa. O terceiro capítulo apresenta a metodologia, que, mencionará os instrumentos utilizados na pesquisa, bem como os procedimentos realizados nesta. Já o quarto capítulo mostra o desenvolvimento, constando a análise crítica das experiências vivenciadas e a enunciação dos resultados obtidos. O quinto capítulo trata das considerações finais.


CAP. I – ABORDAGEM HISTÓRICA


No seu contexto histórico, a língua passa por várias representações na forma de expressão escrita. A Literatura, em suas divisões de época, reflete essas mudanças que se originam entre os vínculos sociais estabelecidos pelos indivíduos ao longo de sua convivência. Foi assim no Classicismo, no Barroco e tem-se mostrado cada vez mais acentuada tal característica, tanto quanto se aproxima dos movimentos literários contemporâneos.

A língua enquanto instrumento de manifestação humana em seu espaço físico serve, em contrapartida com a Literatura, de instrumento de registro e de reprodução de costumes. A semelhança de tal afirmação é mais clara quando se observa a relação entre língua e classe social ou, na língua, entre seus neologismos e os lugares-comuns em que esses se inserem. A Literatura termina por refletir a plasticidade expressiva da linguagem.

A pesquisa prima pela abordagem do ensino da Literatura nas salas de aula do primeiro ano do Ensino Médio no contexto didático do professor em sua relação diária com o aluno, assim como também se busca verificar as características do material didático abordado na pesquisa. A análise da didática é importante no contexto da atividade, porque, assim como o objeto de estudo, a didática também é merecidamente alvo de evolução constante, o que, conseqüentemente, atinge também a linha teórica a que formula os materiais complementares à prática do docente.

O livro, a didática, a prática do professor evoluíram na sua caminhada histórica em complemento das práticas sociais vigentes em cada momento histórico compartilhado pelos seus agentes em sala de aula. A dinâmica dos contextos históricos viabilizou tal abertura na medida em que ambos aspectos mantiveram-se complementados na sala de aula.

A língua é utilizada como instrumento de comunicação e, nesse sentido, esta não distancia-se da finalidade da Literatura. Embora circunscrita num contexto histórico mais recente, a Literatura mantém suas relações comunicativas entre os indivíduos que a compõe de maneira diversa da que comumente se relacionam estes com a língua. De fato, é impossível conceber Literatura sem a língua, mas é inegável a atemporalidade de certas manifestações literárias.

As lutas, as críticas aos sistemas ideológicos vigentes e a construção de modelos de comportamento e de estética estrutural são alguns dos resquícios de influência exercida pela sociedade que, conseqüentemente terminam por espelhar as obras em cada momento da evolução da Literatura ao longo dos momentos históricos determinantes das dinâmicas sociais.

A Literatura, assim como a História mantém-se companheira das inovações e, para que existam novos papéis a serem desempenhados pelos atores sociais, é necessário que estes estejam conscientes da criticidade do instrumento de trabalho, daí a necessidade do trabalho crítico sobre o ensino e a didática da Literatura no contexto das escolas públicas.


CAP. II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


Quando nós falamos da necessidade de se promover a difusão da leitura, em especial de gêneros literários, devemos nos permitir questionar, e responder satisfatoriamente, se queremos fazer nossa sociedade capacitada para se fazer uma autocrítica, se queremos fazer de nossos cidadãos seres humanos capazes de verem o mundo ao seu redor com um olhar de criticidade, e serem capazes de modificá-lo, fazendo, deste mundo, um ambiente democrático, de respeito, onde haja espaço para as convivências pacíficas, democráticas, de múltiplos pensamentos, diversas opiniões, como bem requer a atual sociedade moderna, globalizada; ou se queremos apenas satisfazer mais um capricho do sistema capitalista, onde este pouco se preocupa com o crescimento intelectual do ser humano, vendo as pessoas apenas como consumidores em potencial, se não os são, ficam descartados, marginalizados.

Visto que,

Estes fatos contradizem e, simultaneamente, denunciam a maneira como é compreendida a popularização da leitura na sociedade capitalista, quando se confunde com ampliação de mercado consumidor, ou seja, com a penetração de grande número de livros em diferentes camadas sociais. (Zilberman, 1988, p. 32).


Vale ressaltar que a literatura popular preexistia da mercadológica, já que, esta passou a vigorar com o advento das produções em larga escala, onde passou a haver a necessidade do capital para a sua devida obtenção. E, a primeira, a literatura popular, era produzida por pessoas do povo e transmitida para o povo de forma oral, sem a existência de atravessadores, editoras, entre o artista e o seu público, não consumidor, mas saboreador de sua literatura.

Hoje vemos um fenômeno que chega a ser de verdadeira repulsa entre a literatura difundida pelas grandes editoras e o público de leitores em potencial. Principalmente pelo fato dos leitores não se identificarem com o que é divulgado, produzido, colocado no mercado como literatura. Há inúmeras políticas públicas e privadas de incentivo à leitura; ONGs, grandes empresas, os governos federal, estaduais e municipais compram grandes acervos de livros das grandes editoras, e acessibilizam a escolas, bibliotecas populares, associação de moradores, livros que não despertam o interesse dos possíveis leitores.

Ainda citando Zilberman(1988, p. 53),

Os programas mais recentes, na medida em que não endossam a tese de valor duvidoso de que popularizar a cultura (no caso, a literatura) significa tão-somente reproduzir a cultura popular entre seus produtores e adeptos, insistindo numa segmentação que continua afastando os setores inferiorizados da sociedade do conjunto dos bens culturais, podem constituir num fator efetivo de democratização do saber. E, portanto, de rompimento com a tradição secular de manter a maior quantidade possível de pessoas alienadas da cultura, que, por conseqüência, se desfila, perde a vitalidade e torna-se dependente de influências externas.

Assim, chega de achar que a população mais pobre deste país é incapaz de escolher, e de opinar, na produção e compra de livros que lhes são oportunizados para a leitura. A elite econômica deste país não pode ditar o que é melhor para as classes mais populares lerem, visto que, vivemos numa democracia, e esta democracia deve também ser demonstrada na opinião da compra de livros que os pobres querem ler.

É muito dinheiro gasto na popularização da leitura neste país, onde as legítimas beneficiadas são as grandes editoras, estas pertencentes à classe dominante, que não tem nenhum interesse de procurar saber o que querem ler as classes populares, pois, se estas quiserem ler obras produzidas por escritores de seu próprio meio, haverá, naturalmente, uma ruptura com os interesses das grandes beneficiadas, as editoras, já que estas protegem seus “bons escritores”.

Percebe-se que, em decorrência desses aspectos, a leitura não está constituída somente a partir de uma idéia, com o poder de um sistema ideológico. Nela está contida, também, uma sistemática estruturalizante muito mais concreta, que pretende e sabe assumir contornos de imagem, confeccionada por modos de representação característicos, manifestações próprias e atitudes intrínsecas. Faz parte dessa ambientação representativa a alusão a resultados de ordem prática, e de caráter progressistas. E tudo isso também deve ser vislumbrado pelas camadas mais desfavorecidas de toda a sociedade.

A leitura se concretiza como uma prática que só existe se houver a sua profunda difusão material, que se exerce de maneira individual ou coletiva, mas que resulta da concepção que a sociedade formula para as classes e as pessoas que a compõem. A prática de leitura é inteiramente dependente de forças impulsionadoras, sejam elas governamentais ou em menores âmbitos. Eis a razão para sempre nos depararmos com políticas destinadas à leitura – por vezes propostas por grupos, por profissionais categorizados, pelo próprio governo – bastante aptas a revelar toda a dimensão assumida pelas representações atribuídas ao seu papel social formador de consciência crítica e de cidadania.

Sobre isso, Zilberman(2008) atesta:

Políticas de leitura não deixam de valorizar a leitura como idéia; mas seu sucesso depende de a leitura ser igualmente prezada enquanto negócio. Um importante ramo da sociedade capitalista é constituído pela indústria de livros, para não se falar das fábricas dos maquinários para impressão, nem do hoje importante segmento dado pela produção de hardwares, softwares e periféricos que fazem a alegria das feiras de informática. Não ler é ficar de fora desse mundo, o que talvez signifique ficar de fora do mundo.

Já se tornou lugar comum dizer que o povo brasileiro não lê. Pesquisas revelam que lemos apenas l,8 livros por ano. Se compararmos esse dado com informações de outros países, que alcançam 5, 7, 10 e até 15 livros por ano, a noção de deficiência logo se escancara e mostra falhas enormes em todo o arcabouço educacional-cultural nacional. O Brasil lê pouco, principalmente, pelo grande contingente de analfabetos. Passamos pelo século XX, entramos no XXI com uma grande quantidade de analfabetos puros, pessoas que não sabem ler nem escrever, e também com os chamados analfabetos funcionais, grupo que esteve na escola, chegou a aprender a ler e a escrever, mas não é capaz de entender o que lê, por conseguinte, não consegue escrever um texto simples.

Entre os problemas mais proeminentes de nossa cultura, a leitura exerce um papel essencial e decisivo para o salto perante a civilidade e a cidadania que o Brasil vem realizando. Não pode haver nação desenvolvida que não seja uma nação construída e sedimentada pela figura do leitor. Do operário que necessita ler manuais até o advogado que precisa decifrar o "juridiquês", passando pelo estudante prestes a realizar os exames de seleção profissional, além do cidadão que enfrenta as urnas em época eleitoral, à dona de casa que rege a educação de sua família, ao jornalista que enfrenta sua papelada, todos os partícipes de uma sociedade civilizada são quase que obrigados a utilizar várias maneiras de leitura e interpretação de livros, jornais, revistas, relatórios, documentos, textos, resumos, tabelas, computadores, cartas, cálculos e uma multidão de outras formas escritas.

Se esta situação não for bem trabalhada, o futuro do país pode não ser feliz. Pois, como diz Fiore(2008):

Esta situação é uma ameaça latente e permanente para o nosso desenvolvimento social, econômico e político. É fundamental para o futuro da democracia brasileira estabelecer condições para que, da multidão de jovens pobres que habita as periferias, possa emergir uma massa significativa de pessoas educadas que se integrem nas nossas futuras elites. E para que isto se realize é essencial que esta massa de jovens tenha familiaridade com a leitura. Sem esta familiaridade, sua ascensão social será frustrada, nossa democracia continuará a perigo e nossa sociedade continuará pobre. Este é um fato muito pouco discutido na mídia, [...]. Mas é um problema que os políticos, jornalistas, cidadãos e empresários conscientes devem colocar na pauta de nossas prioridades estratégicas. O Estado, a sociedade e as empresas têm obrigação de compreender o problema, dimensioná-lo, identificar seus fatores críticos e estabelecer programas realistas para resolvê-lo.

Do contrário, este país continuará um gigante adormecido para o mundo globalizado, que prima cada vez mais pela tecnologia de ponta, pelo cidadão multiletrado, este capaz de entender e transformar as informações e descobertas que se proliferam a todo instante, de forma tão rápida que chega impressionar.

CAP. III – METODOLOGIA


3.1 – TIPO DE PESQUISA

Esta pesquisa foi do tipo descritiva, onde se desenvolveu numa abordagem qualitativa, analisando a prática da Literatura de Língua Portuguesa no 1o ano do Ensino Médio de um colégio público estadual do município de Petrolina – PE.

3.1.2 – SUJEITOS DA PESQUISA

Professores e alunos de Literatura de Língua Portuguesa do 1o ano do Ensino Médio de um colégio público estadual da cidade de Petrolina – PE. Foi entrevistada cada professora que ministra aula de Literatura, bem como 3 (três) alunos de cada uma das 3 (três) turmas da série pesquisada.

Os sujeitos desta pesquisa foram escolhidos por fazerem parte da rede de ensino mais ampla e complexa - a rede estadual de ensino -, esta dotada de maiores estruturas físicas, material humano e recursos orçamentários.


3.2 – INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

3.2.1 – DESCRIÇÃO DOS INSTRUMENTOS

Foram elaborados questionários constituídos por indagações objetivas e subjetivas pertinentes ao ensino de Literatura de Língua Portuguesa. Tais questionários foram respondidos por professoras e alunos que fizeram parte desta pesquisa e serviram para fornecer subsídios que permitiram verificar a prática do ensino de Literatura de Língua Portuguesa no 1o ano do Ensino Médio do colégio pesquisado.

3.2.2 – APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS

Os questionários foram respondidos de forma escrita pelos pesquisados, e os pesquisadores utilizaram-se do método da observação, objetivando captar subsídios que pudessem contribuir para um melhor êxito da pesquisa.

3.3 – LEVANTAMENTO DOS DADOS

As respostas dadas pelos pesquisados foram analisadas pelos pesquisadores e transcritas de forma direta ou parafraseada no capítulo 4 deste relatório.

3.3.1 – TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados obtidos por meio dos questionários, respondidos por cada pesquisado, deram margem a interpretações concernentes à prática do ensino de Literatura tida em sala de aula do 1o ano do Ensino Médio de um colégio público estadual da cidade de Petrolina – PE no ano letivo de 2008. Os questionamentos foram feitos para que demonstrassem a verdadeira prática do ensino de Literatura de Língua Portuguesa no 1o ano do Ensino Médio do colégio pesquisado.


3.4 – MÉTODO DE PESQUISA

Esta pesquisa foi realizada utilizando-se o método dedutivo. Com 100% (cem por cento) das professoras de Literatura de Língua Portuguesa, além de 3 (três) alunos de cada uma das 3 (três) turmas do 1o ano do Ensino Médio do colégio pesquisado, fazendo-se a combinação dos dados levantados em sentido interpretativo, isto é, por meio da dedução, caminhando do geral para o particular.


CAP. IV – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS


Neste momento, temos como prioridade fazer a apresentação e a análise dos dados colhidos na pesquisa O Ensino de Literatura no 1ºano do Ensino Médio de um colégio da rede pública estadual da cidade de Petrolina – PE no ano letivo de 2008. Num primeiro momento, relataremos todo o ocorrido nos processos de preparação e de pesquisa propriamente dita. Feito isso, seguiremos com a descrição do questionário destinado aos entrevistados, seguida de uma explicação do porquê de cada pergunta, para depois apresentarmos e analisarmos as respostas colhidas no desenrolar da pesquisa. Por fim, numa conclusão bem sintetizada, relataremos acerca de tudo que foi relatado.


4.1 – CAMINHO PERCORRIDO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA

Na segunda-feira, 26 de maio de 2008, dirigimo-nos à escola escolhida para o desenvolvimento da pesquisa, com o objetivo de apresentarmos à direção da mesma o Projeto de Pesquisa e pedirmos autorização para a aplicação dos questionários. Nesta ocasião, pela manhã, foi realizada a pesquisa junto ao alunado. Fomos cordialmente recebidos pela coordenação pedagógica, que deu a devida permissão para a realização da pesquisa, além de dar informações pertinentes aos professores do quadro da escola que ministram aulas de Literatura Portuguesa. Os alunos não se opuseram a colaborar na resolução do questionário, sendo que todo o processo, incluindo aplicação e recebimento do material, deu-se em poucos minutos.

Para a confecção e obtenção dos dados necessários, fez-se necessário irmos à escola no curso dos três turnos: matutino, vespertino e noturno. Em todas as ocasiões de visita, preocupamo-nos em procurar cada professor de Literatura Portuguesa presente nos respectivos turnos. Ao todo, formaram a lista de professores pesquisados 3(três) professores de Literatura Portuguesa, que ministram aula de Literatura na escola pesquisada e dão aulas um em cada turno do dia, respectivamente. Destes, todos aceitaram participar da pesquisa. Contudo, pediram para responder ao questionário somente no momento do intervalo entre as aulas, pois os alunos se mantinham muito inquietos enquanto os professores tentavam responder às perguntas.

No período da manhã estivemos nas dependências da escola pesquisada entre 9h40min e 10h40min.

Retornamos no período da tarde, onde entrevistamos mais 1(um) professor. Este último pesquisado respondeu ao questionário entre 10h e 10h15min e nos atendeu com muito boa vontade.

Dos 3 (três) professores que fizeram parte da pesquisa, os 3 (três) são do sexo feminino. Cada professora pesquisada só ministra aulas na referida escola durante os turnos em que foram lá encontradas. A pesquisa no turno vespertino foi feita entre 13h40min e 14h. já a pesquisa no turno noturno foi realizada entre 18h50min e 19h10min, do dia 27 de maio de 2008.

A cada professor entrevistado dirigimo-nos com muita cordialidade e respeito. Agradecemos a eles por terem aceitado participar da pesquisa, fizemos uma apresentação pessoal e do projeto e pedimos para todos assinarem o protocolo de ética, este foi explicado e dado para todos lerem o seu conteúdo. Faz-se necessário destacar que, com a professora do turno vespertino, tivemos mais dificuldade em conseguir as informações, devido à perceptível impaciência para com os pesquisadores. Fato esse que não se repetiu nos outros períodos.


4.2 – DESCRIÇÃO DO QUESTIONÁRIO E JUSTIFICATIVA DAS QUESTÕES

Dois questionários foram produzidos para ajudar na efetivação da pesquisa: um destinado ao alunado e outro para ser aplicado junto aos professores. O questionário direcionado aos alunos foi composto de 5 (cinco) questões abertas. Todas as questões foram respondidas espontaneamente e as respostas foram escritas de próprio punho pelos pesquisados.

A primeira questão contida no questionário respondido pelos alunos teve como objetivo detectar a sensação produzida diante de um texto literário. A segunda questão prestou-se a averiguar se existe, nos textos trabalhados em sala de aula, uma identificação por parte do alunado. A terceira proposição objetivou saber se há o hábito de leitura fora do ambiente escolar. A quarta pergunta procurou ver se os alunos gostam das aulas de literatura e do modo como elas são ministradas. Ainda nesse mesmo quesito, perguntamos se eles, os alunos, mudariam alguma coisa na maneira como a aula de literatura é administrada em sala. E, por fim, na quinta pergunta pedimos para que eles descrevessem como se dá uma aula de literatura na escola onde estudam, servindo como um meio de preencher qualquer lacuna que, porventura, pudesse vir a permacer obscura e sem coerência.

As questões direcionadas aos professores foram no número de 6 (seis), com um espaço para observações no final. Do mesmo modo que aconteceu com o alunado, todas as proposições foram respondidas espontaneamente e as respostas foram escritas de próprio punho pelos pesquisados.

A primeira pergunta do questionário direcionado aos docentes em Literatura de Língua Portuguesa da escola pesquisada pretendeu captar a informação acerca do tempo de experiência de cada professor no trabalho com a citada disciplina em sala de aula. O segundo questionamento averiguou a formação do professorado, o local de sua graduação e suas especializações. A terceira proposição procurou saber se o professor via no livro didático um empecilho perante o prazer de ler, se o livro didático atravanca o aluno e se cativa ou não o aluno. A quarta questão buscou extrair do professor uma crítica acerca da idéia de que a literatura só vem sendo trabalhada em sala de aula por meio de fragmentos de obras literárias, e não no seu todo. A quinta pergunta quis observar no professor que ele avalia como positiva ou negativa a metodologia empregada em suas próprias aulas de literatura. Na última questão, deixamos livre o espaço para que os professores descrevessem como são ministradas as suas respectivas aulas para que, durante análise, pudéssemos chocar as informações obtidas também com os alunos e, assim, formar uma melhor e mais ampla perspectiva acerca do propósito de nossa pesquisa.


4.3 – MATERIAL COLHIDO DOS SUJEITOS DA PESQUISA

Em resposta ao primeiro questionamento, destinado aos alunos envolvidos na pesquisa, dos nove pesquisados, um respondeu: “Mais um texto para ler e interpretar”. Outro respondeu: “Aprender um pouco mais sobre arte”. Um outro dos pesquisados respondeu: “Ler logo para ver qual é o assunto”. Uma outra resposta dada foi a seguinte: “É um jornal ou uma notícia”. Outra resposta foi: “Várias coisas a interpretar”. Seguiu-se com as seguintes respostas: “Muita atenção para conseguir entendê-lo”; “Um texto bom de ler, porque ele é poético”; “Raiva em ver aquele texto horrível na minha frente, tenho vontade de queimá-lo”; “Que tenho que ler com atenção para conseguir interpretá-lo”.

Em resposta ao segundo questionamento, dos nove pesquisados, um respondeu: “Sim. É sempre interessante aprender um pouco mais e ver que temos algo a ver com os livros”; um outro deu como resposta: “Não porque eu detesto literatura. Outro respondeu: “Sim, porque neles há poesia”; um outro deu como resposta: “Sim, na maioria das vezes”; e os outros restantes responderam: “Sim, pois nos faz refletir sobre várias coisas”; “Não, nem todas as vezes”; “Às vezes sim”; “Algumas vezes sim”; “Identifico, às vezes”.

Ao terceiro questionamento um respondeu: “Sim, algumas vezes”; outro: “Sim, muito pouco”; um outro: “Não, porque eu não gosto de ler”; outro respondeu: “Sempre que eu tenho uma folga eu gosto de ler revistas, jornais, livros, etc”. E cinco entre os nove pesquisados responderam apenas “Sim”.

À quarta questão um respondeu: “Sim. Não, minha professora consegue passar o assunto de uma forma clara”; outro: “Sim, para mim pela maneira como estão sendo dadas. Estão ótimas”; outro respondeu: “Sim, não mudava nada”; dois responderam: “Sim, gosto”; um outro respondeu: “Sim. Não”; outro respondeu: “Não. Eu não gosto de aula que fala de emoções porque eu não gosto de falar de emoções porque isso é perda de tempo. A mudança seria não ter aula de literatura”; um outro deu como resposta: “Sim, porque a professora ajuda nós entendê-lo e não mudaria nada ”; outro respondeu: “Não. Poderia ser mais divertidas de se estudar”.

Em relação ao quinto quesito, um respondeu: “Além da professora explicar, ela faz debates entre nós alunos”; outro respondeu: “As aulas de literatura são muito boas, pois na sala de aula (leitura) lemos bastante, e as aulas são bem diferentes, aprendemos muitas coisas sobre a leitura”; um outro: “Foi dado o assunto, (palavra indecifrável) feito trabalho, atividade e encerrado”; outro respondeu: “De forma bem explicativa e com comparações entre literária e não-literária”; e um outro: “Normal. Chata, mas normal”. As quatro últimas respostas foram: “Conhecendo bem o texto. A professora explica muito bem para que não fiquem dúvidas”; “Com leitura de livros e vários textos literários, exercícios e produções de textos”; Nós trabalhamos de uma forma bem diversificada, como trabalho em grupo, interpretações, etc”; “Com as leituras de exercícios, textos, produções, roda de leitura (em que o aluno pode ler a quantidade de livros que quiser e explicar).


4.4 – RESPOSTAS DADAS PELAS PROFESSORAS PESQUISADAS

Em reposta ao primeiro questionamento, apresentado às pesquisadas, a primeira professora a responder disse ter dez anos de experiência como professora de Literatura de Língua Portuguesa. A segunda professora afirmou ter quinze anos. E a terceira pesquisada disse ministrar aulas de Literatura de Língua Portuguesa há vinte anos.

Quanto ao segundo questionamento, todas as professoras perguntadas disseram ser graduadas em Letras pela Universidade de Pernambuco. Destas duas têm especialização em Língua Portuguesa e uma terceira está fazendo especialização em Lingüística e o Ensino de Português.

Quanto ao terceiro questionamento, dirigido às professoras pesquisadas, a primeira pesquisada disse: “Alguns autores são muito prolixos, isto distancia os alunos do prazer de ler. Outros tratam de temas que não desperta o prazer da leitura nos alunos”. A Segunda afirmou: “Creio que, se os professores se apegam exclusivamente aos livros didáticos este distanciamento poderá ocorrer, entretanto se realiza outras atividades como: vivência de projetos de leitura, este prazer poderá ser vivenciado e, claro não atingirá 100%, mas terá boa participação. A terceira sentenciou: ”Nunca, isso só ocorrerá, quando o alunado não quer aprender, quer, apenas, o diploma. A leitura interpretativa é raciocínio lógico.”

Em resposta ao quarto questionamento dirigido às professoras pesquisadas, a primeira disse: “Não se pode generalizar. Algumas obras são lidas integralmente. (Com algumas dificuldades)”. A segunda respondeu: “Sou favorável à leitura da obra completa, contudo nosso aluno na grande maioria das vezes se esquiva a esta leitura, mas continuo propondo ao menos 2 por ano, não para prova mas análise da obra e do autor.” A terceira entrevistada deu como resposta: “Literatura está muito além do que a análises de fragmentos de obras literárias.

A quinta pergunta, dirigida às pesquisadas, foi respondida assim pela primeira: “Não, está muito defasada. As aulas têm de ser mais dinâmicas talvez, ou é quase que certo, a mudança das estratégias utilizadas em busca do aprendizado, em se tratando de literatura, ser efetivada”. A segunda respondeu que, “Não totalmente, pois os recursos audio-visuais e bibliográficos são insuficientes, prejudicando assim uma maior diversidade metodológica.” E a terceira pesquisada disse que, “É satisfatória, mas poderia ser melhor com uma biblioteca e/ou mini-biblioteca na sala de aula, onde o aluno tivesse livre acesso.”

Em relação ao sexto questionamento, uma das pesquisadas respondeu que, “Exposição de conteúdos, aulas dialógicas, estudos dirigidos, leitura e análise literária, pesquisa e trabalho em grupo”. Outra disse: “Proponho leitura e análise de obras literárias, realizo rodas de leitura e escolha do campeão de leitura, pesquisas e apresentações de trabalhos sobre as escolas literárias”. E a terceira deu como resposta: “Iniciamos com o contexto histórico e político dos movimentos, explanamos sobre as suas características, enveredamos na biografia dos autores, porque achamos que ela já nos trará informações importantes para que entendamos suas obras. Finalmente, analisamos os fragmentos das obras literárias.”

No espaço colocado ao final do questionário das professoras pesquisadas, com o objetivo de tornar o questionário mais democrático, apenas uma professora fez uso dele, dizendo que: “Solicitamos, sempre que possível, ampliação de conhecimento por parte dos alunos, através de sínteses, quando estamos trabalhando com a literatura.”


4.5 – ANÁLISE DOS DADOS COLHIDOS DE PROFESSORAS E ALUNOS


Das respostas dadas pelas professoras envolvidas na pesquisa, quanto ao primeiro questionamento, dirigido a elas, percebemos que as mesmas possuem vasta experiência na prática educativa de Literatura de Língua Portuguesa, em média 15 (quinze) anos.

Quanto ao segundo questionamento, pudemos concluir que a formação das mesmas é muito boa, pois todas têm formação superior, em Letras, e, destas 2 (duas) possuem especialização concluída e 1 (uma) com a especialização em curso.

Quanto ao terceiro questionamento, 2 (duas) das 3 (três) pesquisadas não responderam à pergunta satisfatoriamente, onde 1 (uma) colocou a possibilidade de alunos que não encontram prazer de ler, devido ao distanciamento provocado pela base dos livros didáticos, em professores que se utilizam apenas destes, 1 (uma) outra defende os livros didáticos, contudo, contraditoriamente, culpa os autores por serem os causadores do (des)prazer de ler dos alunos. Enquanto que 1 (uma) única pesquisada é clara em sua resposta, ao afirmar que o livro didático não é causador do distanciamento do prazer de ler dos alunos.

Em relação ao quarto questionamento, observa-se que as pesquisadas, mais uma vez se esquivaram da pergunta, talvez porque são utilitárias de fragmentos de textos literários na prática de suas aulas de Literatura.

Quanto ao quinto questionamento, 1 (uma) não está satisfeita com a metodologia empregada pela escola em que atuam, no que tange o ensino de literatura, 1 (uma) outra está satisfeita, e 1 (uma) terceira não está totalmente satisfeita. Observa-se nas respostas que todas as entrevistadas colocam a culpa do não bom andamento das aulas em pontos indiferentes a si.

As pesquisadas responderam ao sexto questionamento, denunciando que todas agem de forma tradicionalista na prática de suas aulas de Literatura; não apresentaram nada de inovador em suas práticas pedagógicas.

Para os alunos, ao responder à primeira pergunta, proposta a eles, a grande maioria, 7 (sete) alunos, não se disseram ter uma boa impressão ao receber em sala de aula um texto literário. Apenas 2 (dois) disseram o contrário.

Quanto ao segundo questionamento, proposto aos alunos, 4 (quatro) destes se disseram identificados com os textos literários disponibilizados em sala de aula, 3 (três) afirmaram que nem sempre, e 2 (dois) disseram que não se identificam. Assim, 5 (cinco) encontram insatisfação em relação aos textos literários trabalhados em sala de aula.

Em resposta ao terceiro questionamento, dirigido aos alunos pesquisados, apenas 1 (um) disse não ter o hábito de ler fora da escola, enquanto que 8 (oito) afirmaram ler fora da escola. Essa maioria confirma que por mais que os alunos não se identifiquem com os textos trabalhados em sala de aula, não deixam, porém, de ter o hábito de ler.

No quarto questionamento, a grande maioria, 7 (sete) dos pesquisados, se dizem gostar das aulas de Literatura na forma como são dadas e que não fariam nenhuma mudança na maneira de como estão sendo ministradas. Apenas 2 (dois) pesquisados se disseram insatisfeitos com as aulas de Literatura e propuseram mudanças na forma como as mesmas estão sendo ministradas.

As respostas dadas ao quinto quesito descreveram a forma tradicional de se trabalhar literatura em sala de aula, sem demonstrar nada de novo quanto aos métodos. Tais respostas confirmam as afirmações dadas pelas professoras pesquisadas em relação ao sexto quesito proposto no questionário destinado a estas.


CAP. V – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Literatura descreve um mundo imaginário; contudo, não deixa de recriar o mundo real, não deixa de reconstruir a realidade. Assim, a Literatura não tem apenas o papel informador dos nossos alunos, ela assume sobremaneira, a função formadora de nossas gerações mais novas. Ela proporciona, ou não, o desenvolvimento da e/ou das linguagens de nossos discentes em relação ao mundo que lhes está em volta, criando um olhar crítico, uma ânsia de mudança, um senso de pertença à sociedade da qual faz parte. Por isso, o ensino da Literatura é também ideológico. A escolha do livro é ideológica, o proceder do professor também assume uma posição ideológica. Freire (2007, p. 125), diz que os educadores precisam saber que tão fundamental quanto a prática educacional é a força da ideologia.

Assim, foi com o intuito de detectar como era vivenciada a prática do ensino de Literatura no 1o ano do Ensino Médio de um colégio estadual da cidade de Petrolina – PE no ano letivo de 2008 que desenvolvemos esta pesquisa.

Na qual concluímos que:

a) A concepção e metodologia do ensino de Literatura são fortemente tradicionalistas;

b) O nível de satisfação dos educadores pesquisados é baixo, principalmente por causa da infra-estrutura física e por deficiência de materiais pedagógicos;

c) Os alunos pesquisados não têm uma boa impressão ao receber um texto literário em sala de aula, embora se identifiquem na maioria das vezes com os mesmos, além de terem o hábito de ler fora da escola e de gostarem das aulas de Literatura.


REFERÊNCIAS


FIORE, Otaviano de. O papel da leitura no desenvolvimento social, econômico e político da nação. Disponível em: http//www.ebookcult.com.br/ebookzone/livrobibliotecaeleituranobrasil.html
Acesso em 20 abr.2008.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 35. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. A pesquisa e a construção do conhecimento científico: do planejamento aos textos, da escola à academia. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Rêspel, 2005.

UNICAMP. Universidade de Campinas. A Leitura no Brasil: sua história e suas instituições. Disponível em:
http//www.unicamp.br/iel/memória/ensaios/Regina.html
Acesso em 20 abr.2008.

ZILBERMAN, Regina. A Leitura e o Ensino da Literatura. 1. ed. São Paulo: Contexto, 1988.

Um comentário:

Germano Viana Xavier disse...

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