terça-feira, 25 de março de 2014

O escuro no peito


Por Germano Xavier

"Coração da gente - o escuro, escuros."
Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas



era um teatro com cortinas negras,
lá fora fecharam o portão.
assim começa meu amor por Camile,
com este escuro relato.
jamais ouvi de meu pai um conselho
sobre eternidade:
"que seja infinito enquanto..."
pois bem. cortinas de escuro,
dez horas da noite,
e uma lua redonda
enluarando meus olhos.
um pássaro rasga o firmamento:
"a eternidade pode durar tanto..."
continuam chamando poeta ao que sabe rimar.
o tempo desconforta,
pessoas ao lado,
o teto em cima. o teto
pode desabar. não sei se alguém foi feliz
com uma faca enfiada no peito.
sinto-me tão distante,
mesmo que urgente,
preciso é cuidar.
em que botão desliga-se a humanidade?
o informulável formulo
- não é pequena a humilhação -
passo arrumado, complexos,
atores na esbórnia.
eu já perdi meu lugar.
descubro que jamais vi
eternidade.
do lado de fora,
o poeta mendigando alegria
recitava sábios versos de vida,
saudade, dor, ridículo, belo,
endereços para o Templo Maior.
eu só quero dizer: meu bem!
treme minha alma toda diante do teu olhar.

Um comentário:

Dauri Batisti disse...

é... o que importa afinal é este tremor a dizer: vida.
a vida seguindo a estrada dos nossos olhos e marcando com tintas vermelhas o que vamos preservar na memória, um amor, um desejo de amor, um projeto de amor, um adeus: eu só queria dizer, meu bem!

escrevendo e lendo seus textos, nesse dourado de luz de outubro que vaza pela janela.