quarta-feira, 2 de abril de 2014

Minha ópera ainda inédita (meio)



Por Germano Xavier

Sobre receitas e medicamentos:

Nasce e é sua própria cria.
Faz reluzir suas comendas e edifica casas em gesso-cré.
Era amolentadora de dragões. Hoje doma meninos.
Ornava janelas com sanefas de cretonne azulado.
Gostava de bambinelas.
Tinha um trote miúdo e incômodo. Chouto de potra em desgarre.
Odiava sóis baços. Preferia crepúsculos de vela.
Se moscardos zumbissem, atirava panelas do tempo da mamã.
Já disse dos olhos, agora falo dos beiços, sensuais. Vida pouca.
Elaborava, sempre que podia, um lausperene acerca de digressões.
Num élan, fazia frufru nos vestidos. E ensinava madames.
Socialites pedem batata doré?
Era quando se fechava caixinha de Pandora que era. Mundava.
Era grande, porém pequena. Folículo de gente.
Andava sempre escarolada...
Limpinha e com os ouvidos em bastonetes de algodão.
Acordava em roupas bordadas a soutache.
Pergunta: “que dor é essa?”...
Tem sotaque de pedra beijando a lâmina do rio.
Para ela, tudo nasce de algo, de alguma coisa.
“Ai, ai”... Interjeições prediletas. E sorria.
Apertava almofadas com os joelhos. E jogava línguas.
Tudo era fácil, pensava. As pessoas é que eram estranhas.
Cuidava de paredes coloridas e de banhos madrugadores.
A rua estava sempre poluída com gnomos publicitários.
E a rua nunca fora a mesma...

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