segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Triste viagem


Por Germano Xavier

Sou um ser alado, dotado do desejo meu intranqüilo por liberdade. Utilizo-me desse artifício e com ele consegui, com muita labuta, chegar ao patamar superficial e firme deste planeta Terra. Durante todo o percurso, nenhuma placa sinalizadora, nenhuma seta advertiu-me dos perigos que poderia eu encontrar sobre este gigantesco regolito. Ao pousar, logo tomei nota da minha absurda pequenez. Andei compassadamente por longas horas e interroguei-me: “Como posso comunicar-me com estas criaturas incomunicáveis?”

(...)

Vivi feito um homem, andei como um homem e, principalmente, durante minha experiência sonhei como sonha um homem. Rapidamente, percebi que homens são solitários, indecentemente individuais. Morei no campo e na cidade, e vi que todas as pessoas dependem de um arcabouço exterior chamado informação. A partir dela fomentamos o conhecimento. Conhecimento é o nome de uma flor sem cheiro. No mundo contemporâneo, época em que vivi , perdi-me no trânsito de idéias e pensamentos. Tentava acompanhar a evolução em todos os segmentos da sociedade. Todavia, perdia-me profundamente no labirinto desse caos. Tinha de aprender a apertar botões de uma engrenagem que esvaziava meus bolsos. Aprendi a ter, a ter o gosto pelo não ser.

A rotina atrofiava minhas asas, e pouco a pouco perdi meu direito de voar. Tranquei-me num apartamento, com janelas pequenas, sem grande poder de visão... Tornei-me um ente atravessado numa desesperança e por ligação abúlico perante meu caminho.

Passei a vida alimentando-me de batatas fritas e de um líquido preto com gás. O único jeito que usei para me adentrar no mundo da literatura foi me metamorfoseando em uma traça. Acabei esmagado nas páginas de Sofia.

Olhava de soslaio para todas as esquinas e ruas, logo padecendo em minha suportável insignificância de ser só eu, um homem Um homem no meio de tantos homens.

Furei, não os bloqueios, mas os meus olhos quase verdes e luzidios, que tanto influenciaram na promoção dos cargos nas empresas em que trabalhei como máquina, impulsionado por uma bateria alcalina chamada dinheiro. Minha cegueira era total, apesar de poder abrir os olhos. Eu via tudo!, mas não enxergava além do meu pobre olhar. Não sentia o que minha mão humana tentava expressar. Nada.

Por fim, morri! Morri tendo a impressão de nunca ter vivido. Morri sem saber o que havia por trás de tudo. Morri sem saber usar do poder indescritível da comunicação e sem saber ser homem. Eu tinha asas, só que me impediram de voar...


O texto acima nasceu de uma análise que fiz de uma peça publicitária da revista SUPER INTERESSANTE, ainda no primeiro semestre do curso de Jornalismo. A professora Maita Assy assim comentou:

“Ei, Germano! Desculpe minhas limitações em dar conta do que você acaba de escrever – inclusive por conta de tua letra. Bem, mas me parece que seu texto fala de uma vida não vivida; fala também de alguém que se faz do consumo; fala ainda de falta de acesso ao conhecimento, ao mesmo tempo em que esse é flor sem cheiro. Seria preciso, agora, que essas coisas fossem mostradas na peça de mídia que você selecionou, sob o risco de seu texto não funcionar como uma análise desse material. Seja mais direto, por caridade!, exponha essa visão que você narrou movido pela propaganda da revista.”

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