sexta-feira, 3 de junho de 2011

Brasis



Por Germano Xavier

A relação existente entre o excerto do livro Raízes do Brasil, intitulado de "Novos Tempos", cujo autor é Sérgio Buarque de Holanda, e o documentário "Casa-Grande e Senzala", sobre a obra de Gilberto Freyre, faz-se essencialmente visível na tentativa de ambos em explicar o processo de formação do povo brasileiro através de diversas teorias, explanações, conceitos e interpretações. A obra de Gilberto Freyre discorre tendo em vista o mito das três raças - Branco, Índio e o Negro -, partindo do pressuposto de que a junção dessas três raças constituiu o alicerce fundamental para a "construção de uma identidade brasileira, realçando as parcelas de contribuição condizentes a cada uma, através de seus costumes, crenças, línguas, entre outros aspectos". No texto de Sérgio Buarque é notável o enfoque dado aos conflitos e perturbações dos povos que aqui viviam no período colonial. Há também uma preocupação na questão da chegada dos imigrantes (portugueses, em sua maioria), que ocasionou mudanças no modo de agir e pensar dos nativos, retratando também as transformações ambientais. Segundo o autor, os velhos padrões da colônia se viram ameaçados com a migração forçada da família real, no ano de 1808; tal fato fez com que o país deixasse o anonimato para começar a ser pensado como uma ordem nacional propriamente dita. Toda essa modificação, drástica e rápida, veio contribuir para a germinação de um "caos", de uma desordem que atingiu mais especificamente os modos de vida rural. Em "Novos Tempos", Sérgio Buarque mostra o apego da sociedade atual moderna ao recinto doméstico, uma relutância em aceitar a super-individualidade. O autor questiona a importância da leitura para o cidadão (indivíduo). O texto deixa claro a existência de uma preocupação exacerbada com a gramática, com o Direito Formal, com a retórica e com a palavra, elementos que eram utilizados na fomentação de uma nova "realidade", mais artificial e livresca; fator esse que colocava a intelectualidade num patamar de sujeito diferenciador e segregante, já que o livro e a sua rotineira leitura funcionavam como um instrumento de elevação e de dignificação para aqueles que o cultivavam. A posição social ou a mobilidade social, de acordo com o pernambucano Gilberto Freyre, não estava vinculada diretamente com a aquisição de conhecimento, ou com a leitura de livros, mas sim à cor, ao poder, à hereditariedade e até à quantidade de escravos que um senhor tinha. O livro e a leitura, assim como a cor e o poder eram fatores de repressão social. O documentário conta a formação do povo brasileiro, enfatizando o fato da colonização explorativa dos portugueses, o contato com os povos indígenas e os negros trazidos de diversas localidades do continente africano. Esse povo - o brasileiro - acaba tendo uma singularidade, uma caracterização intrínseca, apesar da complexidade do seu surgimento; surge um povo com hábitos e costumes próprios. A verdade é que Sérgio Buarque tenta, através do nosso passado, enxergar o futuro. O Brasil, diz o autor, tem muitas características ibéricas, e que é justamente daí que é construída a sua cultura. E então?

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Brasil by ~Humerlok"
Deviantart

Artes e escritas disse...

Faço um comentário realmente simplificado, mas a identificação se dá por hábitos como a hora do almoço e o barulho da panela de pressão com cheiro de feijão, que se houve na grande maioria das casas, não importando o tamanho ou a condição social. Nós brasileiros,não somos anjos, mas comemos feijão com prazer e em cada região, um tempero. A nossa identificação começa por aí. Gostei de ler.