sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cada caroço um sorriso



Por Germano Xavier

III

quando se pensava que era já hora
do curió do mato sossegado piar
aí era que o vento dava duas dobras
na própria propriedade de existência
e anunciava do meio do pó doró
o moreninho do mato

o moleque estripuliava era era com tudo
uma vez foi foi matar lavandeira
passarinho do santo abençoado
dizia ele ia pro céu
ser lavador de nuvem

"tem de aguá bem aguado
pro mode ficá alvinha assim pra sempe"
pensava o menino

esse moleque era uma fonte

tinha era um umbuzeiro inteiro
plantado na cuca
cada mordida no fruto era uma arte
cada caroço um sorriso

doró gostava mesmo era soprar lagarta
"vê brabuleta de largata ameninar" dizia
e de matar "largatixa" com beca de pau
que ele mesmo fazia nas folgas de menino respeitoso
aos pais e arredondava as pedrinhas de catada
"qui largatixa é fi de largata disubidienti
fugiu de casa nun quis iscutá mãe e brabuleta sê
feiz foi ficá iscondeno no mei das foia suas arte de rastejo"

pra bicho que se esconde do seu viver
lá ia era tiro de beca de pau pra riba
que o menino ia era pro céu "sê aguadô de nuve"
e arreganhar ainda mais o sorriso de deus

Um comentário:

Germano Viana Xavier disse...

Crédito da imagem:

"Menino_by_joaofred"
DEviantart